O presidente da Vale, Murilo Ferreira, traçou um cenário difícil para o setor de mineração em 2015 e 2016. O executivo destacou um cenário internacional complexo, com uma economia europeia ainda “anêmica”, a japonesa em recuperação e os Estados Unidos em uma queda de braço política entre um Congresso dominado por Republicanos e um governo Democrata.
Em relação à China, Ferreira se mostrou otimista destacando uma mudança de foco do governo do presidente Xi Jinping, olhando para a renda per capita da população e a redução das desigualdades no país, além da concretização de reformas.
“Vejo o cenário mundial muito complexo e não é de se esperar uma situação muito prazerosa. Mas a Vale tem a vantagem de ter enxergado o fim do superciclo ainda em 2011/2012”, disse em encontro com jornalistas nesta terça-feira, 16. Ele mencionou cortes de despesas administrativas de US$ 2 bilhões para cerca de US$ 800 milhões nesse período.
O diretor de Ferrosos, Peter Poppinga, diz que a perspectiva é que a demanda do mercado transoceânico e chinês em 2015 atinja 1,5 bilhão de toneladas. Ele calcula que cerca de 220 milhões de toneladas de capacidade de minério de ferro não tenham competitividade para se manter operando com preços de US$ 70 por tonelada.
Na prática, a Vale espera a saída de capacidades do mercado, mas ainda não sabe precisar em que prazo. Segundo o executivo, em 2014 saíram de 50 a 60 milhões de toneladas de minério de mercados não chineses e quase 100 milhões deixaram de ser produzidas na China.
“Estamos com foco na otimização da nossa margem e produtividade”, disse o novo diretor de Ferrosos da Vale. Poppinga lembrou que a Vale capturou um prêmio de US$ 10 por tonelada na venda de seu minério com teor de 65% de ferro.
Além de cerca de US$ 4 referentes à maior qualidade o produto, a Vale conseguiu uma diferença de US$ 6 ao capturar outras características desse minério, como a redutibilidade e logística diferenciada. A empresa está buscando dar maior liquidez ao índice Platts 65%, que referencia o minério de Carajás de mais alto teor.
Apesar da previsão de entradas de novas capacidades de produção em operação, Poppinga acredita que a contrapartida do esgotamento de outras minas tende a trazer um reequilíbrio para o mercado num período de um a dois anos.
Autorização ambiental
Ferreira anunciou nesta terça que a Vale obteve autorização dos órgãos ambientais para a supressão vegetal na mina N4WS, em Carajás (Pará). O aval permite o início do desenvolvimento da mina.
A etapa faz parte do licenciamento EIA Global, que compreende a ampliação das cavas de N4WS, N5S, Morro I e Morro II, que contêm 1,8 bilhão de toneladas de reservas, e a permissão para pilhas de estéril no Sistema Norte em Carajás, Brasil.
Em novembro a Vale conseguiu a licença de operação para a ampliação da cava N4WS, expedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A licença engloba o plano de produção nos anos de 2015 e 2016 do Complexo Minerador de Carajás e é importante para o plano da empresa de aumentar sua produção de minério.
Em 2015 a Vale estima produzir 340 milhões de toneladas, passando a 376 milhões de toneladas em 2016, 411 milhões de toneladas em 2017, 453 milhões de toneladas em 2018 e 459 milhões em 2019.
O diretor Peter Poppinga acredita que em um cenário difícil de preços internacionais, não controlado pela empresa, a mineradora deve focar em duas âncoras: produtividade e credibilidade, no sentido de entregar o aumento de produção prometido ao mercado.