Se tivesse hoje na chefia do Departamento Econômico do Citibank, cargo que ocupou por 11 anos, o economista e atual professor e coordenador do Centro Macro-Brasil da FGV-EESP Marcelo Kfoury sugeriria ao Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que interrompesse o ciclo de afrouxamento monetário iniciado em outubro de 2016. Isso porque, segundo ele, “houve uma mudança significava do contexto internacional com o fim da bonança em relação aos emergentes, que deve ser analisada cuidadosamente”. É o que Kfoury escreveu em blog hospedado pelo estadao.com, publicado nesta terça-feira, 15, véspera de mais uma reunião do colegiado para definir a taxa de juro.
“Desde meados de abril, a economia internacional mudou, havendo uma reprecificação dos juros nos Estados Unidos. Aqui enfatizo a elevação dos juros de 10 anos, que estavam em 2,45% ao ano no início do ano e agora estão ao redor de 3% ao ano”, apontou Kfoury.
Para o economista, mesmo a curva de dois anos alcançou, pela primeira vez em dez anos, o patamar de 2,5% ao ano, impulsionada, entre outras coisas, pela subida do preço do petróleo. As moedas dos principais países emergentes (Rússia, Turquia, Polônia, África do Sul) se enfraqueceram em linha e os riscos medidos pelos CDS (sigla em inglês para Credit Default Swap) subiram em cerca de 20%.
“A última coisa que queremos agora é importar um ataque especulativo da Argentina”, disse Kfoury, para quem seria mais prudente o BC interromper agora o ciclo de corte da Selic. Desde o início do ciclo a Selic caiu de 14,25% ao ano para 6,50% ao ano e pode recuar mais 0,25 ponto porcentual nesta quarta-feira, 16.
O economista acredita ainda que desta vez, em função do clima de volatilidade que se instalou no mercado, a reunião do Copom será marcada por uma divergências no mercado entre o que ocorrerá e o que deveria ocorrer já que os agentes precificam 60% de chances de novo corte. “Mas se eu estivesse lá recomendaria pelo fim do ciclo”, disse.
Kfoury entende que há duas razões para o Copom continuar o processo de flexibilização da taxa de juros. A primeira é a inflação e as projeções de inflação, que estão muito bem-comportadas. Desde julho do ano passado, a inflação acumulada em 12 meses está abaixo de 3% (nos 12 meses encerrados em março totalizou 2,76%).
“Sendo assim, o Focus continua seguidamente reduzindo as expectativas de 2018. As próprias projeções que o BC deve divulgar na ata tanto para esse ano como para o próximo devem estar ao redor de 4%”, disse acrescentando que uma das razões para a inflação estar tão baixa é a própria recuperação ter perdido tração, o que significa no dialeto macroeconômico, que a economia está com hiato aberto, e então o crescimento econômico não pressiona a inflação no curto e médio prazo.
O segundo motivo é o próprio Copom que, seguindo uma política de antecipar os próprios movimentos “forward guidance”, avisou o mercado que iria cortar na reunião de maio e só iria parar o ciclo em junho. “Claramente, o Copom tinha a intenção de interromper o ciclo quando os juros estavam em 6,75%, mas foi desautorizado pelos dados, tendo que continuar cortando mais 0,25 pontos, alegando que os cortes nos juros eram para que a inflação subisse”, disse.
Kfoury lembra que em março as projeções de inflação estavam ficando recorrentemente abaixo do centro da meta e que o mercado está agora majoritariamente esperando outro corte na quarta-feira porque o BC assim sinalizou. Mas dado o cenário internacional, o economista acredita que o melhor seria a interrupção.