O economista Celso Furtado, disse ontem que o governo Lula deve preparar o país para que seja possível decretar a moratória da dívida externa dentro de três ou quatro anos. Segundo ele, o Brasil não tem outro caminho a não ser o do calote da dívida, pois essa é a única forma de o país conseguir barganhar em futuras negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Furtado adverte, no entanto, que essa medida só pode ser tomada dentro de três ou quatro anos, fase essa que seria utilizada para o país se preparar para as “conseqüências” desse ato.

“É indispensável decretar a moratória como forma de abrir um canal para a renegociação (da dívida). Porém, temos de nos reestruturar para nos adaptarmos à baixa do capital externo, que será um impacto, mas não tão grande como apregoam alguns”, afirmou o economista. “Ninguém quer se fechar a negociar com o Brasil, que é um grande cliente.”

Recessão

Na avaliação de Furtado, somente por meio de um novo acordo com o FMI, a partir da moratória, será possível reduzir a vulnerabilidade externa e retomar o crescimento do país.

Apesar de negar que o Brasil passe por uma recessão profunda, o economista admite que o país possa caminhar nessa direção caso não consiga contornar o agravamento do desemprego.

“Temos de agir rapidamente para fazer face às questões sociais, principalmente o desemprego. O país está parado e não sustenta essa situação por mais de dois anos.”

Furtado criticou a dependência do capital externo e listou dois problemas que considera crônicos na economia brasileira: concentração de renda e altas taxas de juros.

O economista elogiou o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e o trabalho que o Brasil vem fazendo nesta área. “O MST é o mais bonito movimento social deste século. O setor rural é um dos que mais desemprega atualmente. O governo Lula entendeu o problema da fome e vem tomando providências para resolver.”

Furtado participou de um seminário na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

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