A inadimplência continua a ser uma pedra no sapato da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU). Informações disponíveis no balanço da empresa, publicado hoje, mostram que o índice de devedores com mais de três parcelas em atraso tem apresentado recuo muito lento e se mantém em níveis economicamente não aceitáveis, mesmo para uma empresa focada em moradias de interesse social. Isso a despeito de campanhas de recuperação de mutuários, revisão de normas e outras ações. O nível de inadimplência de 2010 atingiu 27%, ante 28% em 2009. O prejuízo da CDHU, no entanto, caiu 74,2% no ano passado, para R$ 41,6 milhões.
A CDHU está restringida legalmente de cobrar da maior parte de seus mutuários prestações superiores a 15% ou 20% de sua respectiva renda. Ainda assim, no encerramento do exercício de 2010, a quantidade média de mutuários com mais de três prestações em atraso foi de 93.870, ante 94.745 em 2009. A empresa tenta há quase uma década reduzir esses números. Em setembro de 2001, iniciou uma campanha publicitária com o objetivo de tornar adimplentes mais de 116 mil mutuários. Para isso, prolongou prazos de financiamento e adequou os valores das prestações à capacidade de pagamento das famílias.
Em 2006, foi criada uma gerência de regularização de contratos e créditos, que atua diretamente em campo, com atenção maior nas localidades com maior incidência de inadimplência. Em 2008, houve uma revisão de normas. No ano passado, a CDHU reduziu a taxa de juros de mora incidente sobre as prestações em atraso, de 1%, para 0,2466% ao mês. Essa medida propiciou uma redução de 75% na taxa anual de juros de mora.
A carteira de crédito da companhia somava no fim do ano passado mais de 339 mil mutuários em cobrança, que representavam um patrimônio de R$ 3,6 bilhões. Segundo informações do balanço, esses mutuários foram contemplados com subsídios concedidos pela CDHU, destinados à redução do valor de suas prestações mensais, representando durante o exercício recursos líquidos de R$ 207 milhões. Os subsídios levam em conta a possibilidade de comprometimento mensal do mutuário.
Famílias com renda mensal entre um e três salários mínimos têm suas prestações limitadas a 15% da renda mensal. O comprometimento da renda mensal sobe para 20% para famílias com renda entre três e cinco salários mínimos, para 25% quando as famílias têm renda entre cinco e oito e meio salários mínimos e 30% para as de renda mensal entre oito e meio e dez salários mínimos. A empresa explica que esses subsídios, chamados por ela de bônus, são o principal motivo para os resultados financeiros negativos.
Ao analisar o perfil de seus mutuários, a companhia informa que a maioria é de famílias com renda mensal de até três salários mínimos, “muito sensíveis às questões de conjuntura econômica, decorrentes de pouca especialização profissional, muitas delas enfrentando problemas de desemprego, saúde e desagregação familiar”.
