Chamado de ?Mingo? pelos amigos, mas de ?El maldito pelado? (o maldito careca) pela maioria da população, o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo reapareceu depois de meses de profundo silêncio público. Na primeira entrevista desde que saiu da prisão, Cavallo disse que estava ?disponível? para o caso de ser chamado pela população para ocupar, mais uma vez, o ministério da Economia.
Cavallo – pai da conversibilidade econômica, que durante dez anos e meio estabeleceu a paridade um a um entre o peso e o dólar – criticou a desvalorização da moeda nacional, além de condenar o default da dívida externa pública.
Segundo ele, sua remoção do cargo, em dezembro do ano passado (um dia antes da queda do presidente Fernando de la Rúa) foi organizada por setores políticos e empresariais favoráveis à desvalorização. Cavallo indicou o ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-89) como o principal conspirador.
Além disso, o ex-ministro sustentou que a população argentina não está contra o ?corralito? (semi-congelamento de depósitos bancários), mas sim contra o ?corralón? criado pelo governo do presidente Eduardo Duhalde, que incluiu a ?pesificação? (passagem de dólares para pesos) dos depósitos feitos em dólares. ?Quem prendeu o dinheiro do povo foi o Duhalde?, disse.
Bronzeado e bem-humorado, Cavallo até aproveitou o programa de TV ?Hora Clave? para brincar com sua nova silhueta. O estrito regime imposto por Sônia Cavallo – com uma drástica eliminação das ?medialunas? (croissants) que seu marido adora – teve resultados, já que ?Mingo? perdeu 15 quilos. Mas ele possui outra explicação: ?agora estou melhor que antes…viram só que é muito melhor estar fora do governo??.
O ex-ministro também falou sobre o principal sócio do Mercosul.
Segundo ele, a atitude que o FMI está tomando em relação ao Brasil é muito parecida com aquela que o organismo financeiro teve com a Argentina no ano passado. Cavallo considera que a Argentina cometeu um erro ao não iniciar antes do conveniente a renegociação da dívida externa pública. Por este motivo, recomendou ao Brasil que renegocie sua dívida ?enquanto for tempo?.
O chefe do gabinete de ministros, Alfredo Atanasof, retrucou as declarações de Cavallo, relembrando ?o inferno de dezembro? em relação ao ?corralito? criado pelo ex-ministro e a conseqüente queda do governo De la Rúa.
Segundo Atanasof, a Argentina é um país ?muito generoso? para permitir que pessoas como Cavallo apareçam na TV. Elisa Carrió, líder do centro-esquerdista Argentinos por uma República de Iguais (ARI) e a candidata preferida nas pesquisas para as eleições presidenciais, afirmou que o reaparecimento de Cavallo ?é a volta dos mortos-vivos?.