Os brasileiros estão mais cautelosos em relação a novas compras ou novos empréstimos e financiamentos, o que mostra certo “aprendizado”, na visão da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Contudo, a contenção de gastos que alivia o orçamento familiar terá como reflexo negativo a continuidade de desaceleração nas vendas do varejo.
“As famílias estão demandando menos crédito não por inadimplência, mas por cautela. Existe um processo de aprendizado”, afirmou a economista Marianne Hanson, da CNC. Nesta quinta-feira, 26, a Confederação anunciou que o endividamento das famílias ficou em 57,8% em fevereiro. A fatia é maior do que a verificado em janeiro (57,5%), mas bem menor do que em fevereiro de 2014 (62,7%).
O aumento do endividamento na comparação mensal já era aguardado, segundo Marianne. “No primeiro trimestre incidem gastos diversos como IPTU, IPCA, matrícula escolar e materiais. Muitas famílias não se preparam e acabam recorrendo ao crédito”, explicou a economista.
Na comparação anual, porém, a redução do endividamento demonstra a cautela dos consumidores. O incomum é que veio a despeito de um aumento na fatia dos que têm contas em atraso e devem permanecer inadimplentes – de 5,9% em fevereiro do ano passado para 6,4% neste mês.
“Não é comum, normalmente o endividamento sobe quando aumenta o número de famílias com contas em atraso. É um fator positivo que elas consigam fazer isso. Mas também é graças ao ano passado, já que houve em 2014, principalmente no segundo semestre, uma tendência de redução do endividamento”, detalhou Marianne.
Como resultado, a parcela média da renda comprometida com dívidas entrou em queda livre na passagem do ano. De 30,6% em dezembro, esse indicador passou a 29,5% em janeiro e a 28,8% em fevereiro. O que aumentou foi o tempo médio de pagamento, de 6,9 meses em dezembro para 7,1 meses na pesquisa divulgada hoje.
Além do cenário econômico incerto, a economista da CNC apontou a elevação dos juros como o principal desestímulo ao consumo. Quem tem contas em atraso, por sua vez, encontra condições menos favoráveis para renegociar as dívidas. A despeito disso, ela lembrou que a inadimplência ainda está em níveis historicamente baixos.
Se por um lado toda essa cautela traz alívio ao orçamento das famílias, por outro derruba ainda mais a atividade. “O aspecto negativo é uma desaceleração no consumo das famílias”, comentou a especialista. Recentemente, a CNC revisou sua projeção para o crescimento das vendas no varejo restrito (sem veículos e materiais de construção) este ano, para alta de apenas 1,7%.