O carvão vegetal tradicional -produzido, em alguns casos, de forma clandestina e utilizando mão-de-obra escrava ou infantil – está ganhando um concorrente de peso.
O briquete de carvão vegetal, considerado ecologicamente correto e 100% natural – já consolidado no mercado europeu e norte-americano -, começa a disputar espaço nas prateleiras de algumas redes de supermercados e postos de gasolina do Brasil. Além da questão ambiental, o briquete promete rendimento maior e tem preço competitivo.
?Há mais de cem anos a Europa baniu o carvão de carvoaria, feito de madeira sem origem, de áreas não regulamentadas. Lá, existe a consciência ambiental; aqui no Brasil, ainda não?, comentou João Luiz Carvalho, superintendente do Grupo Empal – holding da qual faz parte a Cepevil, fábrica localizada em União da Vitória que tem capacidade para produzir 30 mil toneladas de carvão ecológico por ano e está há quatro no mercado. Ao longo desse período, os investimentos somaram mais de US$ 5 milhões.
Segundo Carvalho, até o ano passado toda a produção da unidade – que funciona 24 horas por dia e emprega 120 pessoas, divididas em três turnos – seguia para mercado externo, principalmente a Europa, destino de 90% da produção.
Este ano, a fábrica decidiu apostar no mercado brasileiro e reservou 5% do volume produzido para esta finalidade. ?O mercado europeu já está consolidado. Agora, nosso foco é o mercado brasileiro. Para isso, estamos investindo em distribuição, em informação?, destacou o superintendente.
Para a empresa, vender para o mercado interno significa não apenas deixar de sofrer os efeitos do câmbio, mas também ter uma demanda garantida ao longo do ano. ?Brasileiro faz churrasco em qualquer época do ano, ao contrário do europeu que só faz no verão e consome muito pouco carvão no inverno. No Brasil, não há esta sazonalidade?, explicou.
Sobre os efeitos do câmbio -que têm prejudicado as empresas exportadoras por conta do real forte e do dólar fraco -, Carvalho disse que o dólar sempre era utilizado como moeda oficial nos contratos.
?Mas desde o ano passado, passamos a adotar a moeda local: euro na Europa e dólar nos Estados Unidos, para onde vão entre 3 e 4 mil toneladas por ano?, contou. Além disso, a empresa conseguiu renegociar contratos com alguns clientes, amenizando a desvalorização cambial.
Carvonet
Ao contrário da Europa – onde o carvão da Cepevil é vendido sob marca própria, para empresas renomadas como a Big K, Science e Tesco -, no Brasil ele é comercializado com o nome Carvonet. ?Os europeus são clientes de marcas antigas. Por isso, fornecemos para grandes redes de supermercados sem colocar o nosso nome?, explicou.
Entre as vantagens do produto, Carvalho destaca a questão ambiental – ele é produzido em fábrica e não em carvoaria, a madeira é oriunda de reflorestamento e a empresa segue normas e certificações ambientais -, a produtividade até 45% maior do que o carvão tradicional.
Além disso, acrescentou, a queima do carvão não produz fumaça excessiva, não produz chama e o calor dura mais tempo. ?Quatro quilos de briquete equivalem a 10 quilos do carvão vegetal comum?, comparou. O preço também é atrativo: entre R$ 7,00 e R$ 8,00 o pacote de 4 quilos, dependendo o estabelecimento. No caso do carvão vegetal comum, pode variar entre R$ 5,00 e R$ 8,00.
Empresa paranaense cria tecnologia não poluente
Também na linha ?ecologicamente correto?, a Bricarbras – unidade instalada em Jaguariaíva, Norte Pioneiro, pertencente ao Grupo Hübner – desenvolveu tecnologia para a fabricação do carvão vegetal, sem causar danos ao meio ambiente. São as Unidades de Produção de Carvão (UPCs), que utilizam menor quantidade de madeira e emitem menos gases tóxicos do que os fornos de barro tradicionais.
Em três anos, desde que começou a desenvolver e comercializar as UPCs, a Bricarbras conta com cinco unidades no Brasil – duas delas próprias – distribuídas por Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
Os equipamentos, disponíveis em três versões – para produção de mil metros cúbicos de carvão (mdc) por mês, para 3 mil e para 4 mil – são vendidos sob encomenda e só para grandes indústrias.
?O Brasil é um dos únicos países a ter sua siderurgia movida a carvão vegetal?, lembrou a negociadora das UPCs, Janete Tomelin, destacando que o mercado industrial consumiu, entre 2000 e 2006, cerca de 91% do carvão produzido no País. O consumo residencial respondeu por apenas 8,3%.
Sem citar o investimento necessário para comprar um equipamento desses, Janete disse apenas que a nova unidade de produção é capaz de reduzir em até 17% o custo de produção na comparação com uma linha comum.
?Pelo método tradicional, são necessários 2 metros cúbicos de madeira para produzir um metro de carvão. Com a nossa tecnologia, é preciso 1,6 metro cúbico de madeira?, explicou. Segundo ela, a nova tecnologia também utiliza menos mão-de-obra e não é poluente.