Não só em letra de música, mas também na vida real a comparação do cartão de crédito a uma navalha faz sentido. É isso o que apontam os dados mais recentes da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em Curitiba, no primeiro mês de 2011, esse tipo de crédito respondeu por 46,8% do total de dívidas entre os que reconheceram ter algum parcelamento a pagar. No País, o percentual foi ainda maior: 72,3%.
A pesquisa é focada em contas ou dívidas contraídas por oito vias – cheques pré-datados, especial, cartões de crédito, carnês, crédito pessoal, crédito consignado, financiamento de imóvel e prestações de carro – , além da opção “outras dívidas” (2,7%). As alternativas “não sabe” e “não respondeu”, em Curitiba, não obtiveram pontuação e, para os especialistas, isso denota um claro amadurecimento financeiro da população.
“Os dados levantados pela CNC revelam a diferença que a educação financeira tem sobre o uso consciente do crédito. Assim como não saber é um sinal claro de descontrole financeiro, usar o cartão desmedidamente significa não ter um mínimo conhecimento sobre o alto preço a pagar por essa modalidade de financiamento”, analisa o economista Maurílio Schimitt. “O cartão é o meio de pagamento mais oneroso e, disparadamente, ainda é o mais utilizado pelos consumidores brasileiros”, alerta.
E, pela pesquisa, a renda familiar não implica em um comportamento muito diferente. No grupo com rendimentos até 10 salários mínimos, o cartão responde por 49,6% das contas das famílias curitibanas endividadas. Já aquelas com ganhos mensais acima de 10 salários apontaram o cartão de crédito como o responsável por 43,9% das dívidas contraídas.
O economista deixa claro que o crédito em si é uma ferramenta histórica da economia, porém, deve ser tratado de forma responsável. “Não há nada contra a concessão de crédito, mas se ele não for concedido com muita cautela pode desarranjar a produção. Estamos observando o enorme esforço da presidente neste início de governo para frear os índices inflacionários e, em grande parte, isso se deve ao desequilíbrio entre a grande evolução do crédito pessoal disponibilizado durante os últimos oito anos em detrimento do crédito fornecido ao sistema produtivo”, analisa. “A inércia de 2010 ainda sustenta esse bem-estar econômico e mantém o nível de emprego, porém, assim como o mercado, sucessivamente, tem revisto para cima a inflação deste ano, também tem sido revisado para baixo o crescimento da economia brasileira para 2010”, pondera Schimitt.
O grande risco disso é um crescimento da inadimplência. Pela CNC, apesar da grande maioria das famílias curitibanas estarem endividadas (88%), apenas 26% apresentam contas em atraso e 9% não têm condições de pagar. Do grupo que poderá saldar seus débitos nos próximos meses, 53,8% está em atraso por mais de 90 dias e 25% até 30 dias. Com atrasos entre um e três meses ficaram 20,5% dos consumidores e 0,8% não respondeu. “A metodologia que a CNC usou é diferente dos indicadores mais usuais que considera inadimplentes apenas quem está em atraso há mais de 90 dias. Mas o levantamento é válido para diagnosticar o uso exacerbado do crédito que, em uma eventual desaceleração da economia, pode comprometer toda a organização da economia como vimos ocorrer nos Estados Unidos devido, principalmente, ao crédito ao setor imobiliário”, aponta o economista.
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