Carros antigos sustentam fábricas

São Paulo – Desde 1985, quando começou a dirigir, o consultor de sistemas Deolindo Birelli Júnior, hoje com 36 anos, já teve 56 Opalas, uma média de 1,5 carro por ano. Atualmente, mantém cinco deles na garagem de sua residência em Osasco, na Grande São Paulo. Em nenhum outro modelo, mesmo nos mais recentes, com alta tecnologia, ele encontrou o conforto e, principalmente, o espaço que uma pessoa de 2,08 metros de altura precisa.

“Quem mede acima de 1,90 metro tem dificuldade em encontrar um automóvel com espaço suficiente para pernas e que acomodem bem a coluna”, diz Birelli, que cuida pessoalmente da manutenção dos seus modelos, fabricados em 69, 71, 77 e 78. O Opala deixou de ser fabricado em 1992, depois de 23 anos e 1 milhão de unidades vendidas.

As peças para os carros -que Birelli não empresta nem para a noiva – sempre são originais. Por necessidade ou paixão, proprietários de modelos “dinossauros” como Opala, Chevette e Monza garantiram à fábrica da General Motors de Mogi das Cruzes (SP) a marca de 3 milhões de peças produzidas em setembro. Inaugurada em 1999, é a única no Brasil com quase toda a produção voltada para carros fora de linha. As outras montadoras terceirizam o serviço ou mantêm a fabricação conjunta com peças para modelos atuais. No mundo, só a GM tem outra unidade exclusiva de peças para veículos descontinuados nos EUA, além de Honda e Toyota no Japão.

A fábrica brasileira produz itens como capôs, portas, tetos, laterais, pára-lamas e pára-choques. “Privilegiamos componentes de maior demanda”, diz o diretor industrial da GM em Mogi das Cruzes, Antônio Carlos de Carvalho Braga. As peças de maior saída são as do Monza, fabricado entre 1982 e 1996 e que teve 850 mil unidades vendidas.

Para atender à demanda, a empresa estuda a criação do segundo turno de trabalho, o que resultaria em 50 novas vagas. A fábrica emprega 300 operários na linha de produção e mais 300 na armazenagem e distribuição. “Não é uma fábrica moderna. Operamos com prensas transferidas das outras unidades e até dos EUA”, diz Braga.

A venda de componentes da marca movimenta por ano cerca de R$ 750 milhões, 20% para carros fora de linha, calcula o gerente de marketing de peças, Adimicio Pelissaro. “O mercado de reposição é prostituído, normalmente não tem qualidade e design das peças originais.” Também há grande comércio de peças obtidas em desmanches ou piratas.

Apesar da fábrica exclusiva da GM, quem procura peça original encontra dificuldades. O bancário Luis Antônio Mascellaro, dono de um Chevette 74, levou quase um ano para encontrar um volante para o carro, adquirido zero quilômetro por sua madrinha, repassado para sua irmã em 1988 e há nove anos em seu poder. “Também passei um ano procurando bancos originais, mas tive de recorrer a um desmanche. Com uma foto, procurei um tapeceiro e ele reconstruiu tudo.” A GM vendeu 1,6 milhão de Chevettes nos 20 anos de vida do modelo.

A Volkswagen terceirizou boa parte da produção de peças, mas ainda mantém alguns itens em linha na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). A empresa vende, todo mês, 1,6 mil pinos do pistão do Fusca, 1,4 mil cabeçotes de motor da primeira geração do Gol e 2 mil tuchos de válvulas de admissão para Fusca e Brasília. A Toyota fornece mensalmente 4,3 mil itens para o jipe Bandeirante, fabricados em São Bernardo. O mercado total de reposição no Brasil responde por 17% do faturamento das fabricantes de autopeças, ou US$ 1,87 bilhão.

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