Carne bovina aumentou 15% só em novembro

A carne bovina encareceu 15% no Paraná na primeira quinzena de novembro. Dados coletados pelo Departamento de Economia Rural (Deral) mostram que o preço médio do quilo de coxão mole passou de R$ 6,45 no final de outubro para R$ 7,44 na semana passada. Pelos cálculos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), o preço médio da carne em Curitiba ficará entre R$ 7,50 e R$ 8 nesse mês. “A carne deve pressionar o custo da cesta básica em novembro”, afirma o economista Cid Cordeiro, do Dieese. “É uma alta não esperada, já que o período de maior aumento costuma ser de julho a outubro, por causa da entressafra.”

Não é só a entressafra que está provocando a alta do preço da carne, que nesse ano superou a média histórica. A justificativa dos pecuaristas para a elevação de preço é a disparada do dólar, que subiu cerca de 26% desde o início do ano. De janeiro até ontem, a arroba de boi gordo aumentou 32% no Paraná, passando de R$ 44 para R$ 58. Em termos nominais, é o valor mais alto da história. De junho até ontem, o incremento foi de 38%. Só nos últimos dois meses, a cotação valorizou em 23%. A arroba da vaca estava cotada ontem a R$ 51.

“O dólar alavancou o preço pago pelos frigoríficos aos pecuaristas, mas o que sustenta o boi nesse preço é a retenção de mercado, esperando preços melhores por causa da indefinição de políticas financeiras, ingresso do décimo terceiro e previsões de exportar mais”, analisa o economista Gustavo Fanaya, do Sindicarne (Sindicato da Indústria de Carne e Derivados do Paraná). Com o preço alto, o consumo de carne bovina por pessoa em 2002 caiu entre 5 e 6% no Brasil. “Em relação ao salário mínimo, o preço do boi está quatro vezes maior do que a média histórica. Com a queda da renda da população e a impossibilidade de substituir a carne bovina por outros produtos, a produção está sendo compensada com aumento na exportação”, observa Fanaya.

Embora o boi não seja uma commoditie internacional, já que 90% da produção é destinada ao mercado interno, o dólar é uma referência psicológica do produtor. “O dólar afetou alguns insumos da pecuária, como óleo diesel, cerca de aço e medicamentos, que são pouco representativos na planilha de custos”, comenta Fanaya. Em dezembro, com o início da safra e o décimo terceiro na mão dos trabalhadores, a expectativa é de aumento da demanda e elevação do preço.

O aumento do preço do milho e soja e a tentativa dos produtores de obterem melhor remuneração colabora para reter a produção no campo. “Em período de variação cambial e indefinições políticas, eles querem preservar o ativo real. Em função da alta liquidez do boi, os pecuaristas reduziram a oferta”, assinala o chefe do setor de bovinocultura de corte do Deral, Adélio Borges. Cerca de 90% da produção nacional é direcionada ao mercado interno, sendo que 80% está concentrada nas grandes redes de varejo. Somente 10% é dirigida aos açougues e pequenos varejos. Outros 10% se destinam ao mercado externo.

No ano passado, o Brasil produziu 6,9 milhões de toneladas e exportou 740 mil toneladas. Nesse ano, deve produzir 7,3 milhões de toneladas e exportar mais de 800 mil toneladas. Até agora, já vendeu ao exterior 760 mil toneladas.

O Paraná representa cerca de 5% da produção nacional, totalizando 360 mil toneladas em 2001 e com previsão de chegar a 430 mil toneladas nesse ano. A exportação do Estado deve crescer de 14 mil para 25 mil toneladas. “Embora o volume exportado seja inexpressivo, a carne paranaense é de muito boa qualidade, incluída na Cota Houston, a melhor do mercado internacional, destinada aos melhores hotéis e restaurantes da Europa”, destaca Borges.

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