Um dos predicados mais recorrentes a Curitiba é o de modernidade. Famosa não só no Brasil, mas também no mundo pelo seu planejamento e engenhosidade, a capital paranaense tem status de cidade moderna e altamente urbana. Basta dar uma rápida passada pelos bairros do município para constatar essa afirmação.
Mas nem tudo soa como século XXI em Curitiba. Existe ainda uma pequena parcela da capital que vive em pequenas propriedades rurais, a exemplo do que ocorria há alguns anos. Com 275 propriedades rurais, elas representam 3% do território, o equivalente a 1.616,934 hectares.
Para efeitos de comparação, todas essas áreas resultariam em 11 Parques Bariguis. A produção nesses locais é diversificada, contando com pastagens, pisicicultura, produção de leite, lavouras de grãos, como milho e feijão e, principalmente, hortaliças.
Para conhecer melhor essas pessoas que vivem da terra, a Secretaria de Abastecimento de Curitiba realizou um censo, com perfil detalhado dos pequenos agricultores.
O objetivo desse trabalho é o de realizar programas voltados para esses curitibanos, garantindo a eles o incentivo à agricultura urbana. O trabalho levou um ano para ser concluído.
Queremos criar mecanismos para que tenham acesso a políticas de fomento, CRÉDITO, entre outras benesses” Norberto Ortigara, secretário do Abastecimento. |
O secretário de Abastecimento, Norberto Anacleto Ortigara, conta o que a Prefeitura de Curitiba pretende fazer em benefício destes cidadãos. “O plano diretor da capital é 100% urbano. Isso significa que as propriedades rurais produtivas pagam o Imposto Territorial e Urbano (IPTU) e não o Imposto Territorial Rural (ITR). Estamos estudando fazer uma redução do IPTU, uma vez que seria muito complicado mudar a lei. Queremos ainda criar diversos mecanismos para que eles tenham acesso a políticas de fomento, assistência técnica, crédito rural, apoio para vacinação do rebanho bovino, entre outras benesses”, revela.
Contudo, o secretário ressalta que apenas “propriedades que realmente produzam é que terão essa benfeitoria. Não basta ter apenas uma hortinha e meia dúzia de galinhas. Será beneficiado quem de fato trabalha com a terra”.
Ortigara conta que a prefeitura tem interesse em manter essas pessoas no campo, pois, além de contribuir com o meio ambiente do município, essas propriedades contêm a chamada especulação imobiliária.
“Essas áreas ajudam a impermeabilizar o solo da cidade, a garantir uma área verde para a cidade, entre outras coisas. Isso influi diretamente também na especulação imobiliária, pois com essas pessoas nestes locais, evita-se que uma parte da história da cidade seja totalmente dizimada”, avalia.
Uma ajuda que vem em boa hora
Aliocha Mauricio |
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Curitiba tem 275 propriedades rurais, que representam 3% do território – 1.616,934 hectares. |
Para os produtores rurais de Curitiba, esse trabalho desenvolvido pela prefeitura vem em boa hora. De acordo com a agricultora Jocelias Felibrante, cuja família possui uma área de pouco mais de um alqueire e meio no bairro do Caiuá, que produz principalmente hortaliças em geral, esse censo vai ajudar a conseguir benefícios que auxiliarão na vida do campo.
“Nós ficamos sabendo sobre essa diminuição do valor do IPTU. A gente aqui já recebe a luz rural, que garante um bom desconto na conta de luz. Fomos informados pelo pessoal da prefeitura que, com esse levantamento, poderemos ter acesso facilitado a créditos rurais. Além disso, achamos importante esse inte,resse, pois é uma maneira de não nos sentirmos excluídos, uma vez que nosso estilo de vida é diferente dos demais”, diz ela.
Felibrante garante que ela e sua família não têm pretensão de largar a vida na roça. “A gente gosta muito daqui e nos criamos nesse lugar desde pequeno. Quase todo mundo aqui trabalha no campo. Não temos interesse em desistir dessa vida. Há algumas semanas, vieram fazer uma proposta para compra da nossa propriedade, entretanto, não vendemos isso daqui por nada. Além do mais, para onde a gente iria se a propriedade fosse vendida? Toda a nossa vida está aqui”, avalia.
A opinião de Feliberante é compartilhada também pelo produtor rural Alfredo Jabonski, cuja propriedade, de três alqueires, também fica no bairro do Caiuá. Para ele, esse trabalho ajuda a manter o produtor no campo.
“Esse auxílio é de extrema importância. Se não recebesse atenção da prefeitura, possivelmente teria que desistir de trabalhar no campo. Embora ainda não precise, fica mais fácil para conseguir crédito rural”, conta.
Ele acredita que manter essas atividades rurais é benéfico para Curitiba. “Acho que essas propriedades garantem para a cidade mais espaço verde. Aqui onde moro fica próximo de uma área de manancial e acredito que uma atividade rural ajuda a manter a qualidade da água. A exemplo dos demais, também não tenho interesse em sair daqui ou vender a propriedade, por achar importante que Curitiba mantenha um pouco do que já foi sua história e porque gosto de viver aqui”, conclui.