A incoerência e a superficialidade nas propostas de política fiscal dos candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) estão entre as principais fontes de inquietude dos economistas e empresários. Segundo eles, é natural que os candidatos evitem temas espinhosos, como um ajuste fiscal, às vésperas da eleição, mas, neste ano, o debate político está ainda mais incongruente: “Não se sabe qual é a plataforma dos dois”, diz a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

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Do lado do candidato de direita, o projeto de vender estatais para equilibrar as contas públicas – que já era questionado por especialistas – perdeu ainda mais credibilidade após Bolsonaro criticar a privatização da Eletrobrás. Do lado do candidato de esquerda, não há definição sobre a disponibilidade ou não de realizar uma reforma da Previdência nem em relação ao modelo que seria adotado.

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“Essa conversa (de Paulo Guedes, guru econômico de Bolsonaro, indicado para ser ministro da Economia) de zerar o déficit em um ano com privatizações é conversa para boi dormir”, diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Cálculos do economista apontam que uma eventual onda de privatizações não arrecadaria mais que R$ 400 bilhões, incluindo estatais como Banco do Brasil, Petrobrás e Eletrobrás. A campanha de Bolsonaro, que falava em levantar R$ 1 trilhão com a venda de ativos, já anunciou que essas empresas ficariam de fora do projeto.

Borges acrescenta que a relação entre Guedes e Bolsonaro lembra a da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Havia uma tensão inerente entre os dois”, diz. “Os ruídos na campanha de Bolsonaro podem se acentuar.”

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A falta de unidade no discurso fiscal das duas campanhas pode dificultar a criação de uma equipe econômica de peso, acredita Zeina. O economista Marcio Pochmann, um dos responsáveis pelo programa do PT, tinha um discurso de que a reforma da Previdência não era necessária e que o crescimento econômico estabilizaria o déficit na área. Haddad, no entanto, sinalizou estar disposto a debater o assunto. “Quando não se tem um propósito claro e não se deixa evidente quais são os compromissos, fica muito mais difícil montar a equipe”, diz Zeina.

Do lado dos empresários, há também o receio em relação a propostas que consideram inexequíveis, como a do candidato Haddad, de usar reservas cambiais para promover desenvolvimento. “Isso não existe”, diz o presidente da Abinee (representa as empresas do setor eletroeletrônico), Humberto Barbato.

Ele também discorda da abertura comercial unilateral proposta por Bolsonaro. Segundo Barbato, antes disso, seria preciso promover mudanças estruturais para reduzir os custos da produção local. Em relação às propostas liberalizantes de Guedes, Barbato diz que se “chocam com as do candidato”. Já Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim (representa a indústria química), vê com otimismo as propostas das duas candidaturas. “Se 90% delas forem cumpridas, o País voltará a crescer.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.