O ex-comissário de Comércio da União Européia, o francês Pascal Lamy, foi escolhido ontem para ocupar o cargo de diretor-geral da OMC (Organização Mundial de Comércio), com a eliminação do candidato uruguaio, apoiado pelo Brasil, Carlos Pérez del Castillo, segundo o embaixador do Uruguai na organização, Guillermo Valles-Galmes.
A embaixadora do Quênia, Amina Mohamed, que preside o Conselho Geral da OMC (órgão responsável pela condução do processo de escolha do diretor da organização), disse aos embaixadores da França e do Uruguai que Lamy foi o candidato que obteve consenso entre os membros da organização, segundo Valles-Galmes.
?Ela recomendará Pascal Lamy?, disse o embaixador depois do encontro com Mohamed. O comunicado oficial da recomendação de Lamy para a direção da OMC foi feita ontem no início da tarde.
?Quero parabenizar Pascal Lamy e desejar-lhe a melhor sorte em sua tarefa?, disse Castillo. ?Aceito o resultado. Pedi a meu governo que retire minha candidatura.? Castillo disse ainda que espera que não haja obstáculos para Lamy assumir o posto à frente da organização. ?Agora, vamos continuar o trabalho?, disse, acrescentando que está ansioso para trabalhar com Lamy.
O processo de seleção do sucessor do diretor da organização, Supachai Panitchpakdi, começou no fim de janeiro, com a apresentação de quatro candidatos: o francês Lamy, o uruguaio Castillo, o candidato de Maurício, Jaya Krishna Cuttaree, e o embaixador brasileiro Luiz Felipe Seixas Corrêa.
O candidato brasileiro foi eliminado na primeira rodada de escrutínios, no mês passado. Depois, foi anunciada a saída de Cuttaree.
O atual mecanismo de escolha do novo diretor foi adotado em 2002 e baseia-se em uma eleição feita por processos de eliminação.
O Conselho Geral da OMC consulta os representantes dos países-membros para saber em torno de qual candidato é mais provável haver consenso.
Em cada rodada de consultas, o candidato que tiver menos chances de criar consenso se retira da disputa. Com o término das consultas, Mohamed deve convocar os embaixadores dos países-membros na OMC para comunicar o resultado.
Na próxima semana, os embaixadores devem se reunir no Conselho Geral para aclamar oficialmente o novo diretor, que deve assumir o cargo no dia 1.º de setembro, para um mandato de quatro anos.
Ministro da Agricultura elogia escolha de Lamy
Apesar da declaração de apoio do Brasil ao candidato uruguaio, Carlos Pérez del Castillo, à diretoria-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, avaliou a eleição do francês, Pascal Lamy, como um ?avanço? nas negociações internacionais.
Rodrigues disse que Lamy é amigo do Brasil, tem grande experiência no assunto e deve conduzir com competência os processos de negociação na OMC, segundo informou a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura.
O ministro disse que o novo diretor-geral da OMC defendeu a formação do G-20 (grupo dos países em desenvolvimento criado por iniciativa do Brasil) como um instrumento de progresso nas negociações dentro da OMC e que, por isso, a expectativa com relação a sua eleição é positiva.
Em 2003, o ministro Rodrigues disse que o diálogo entre o G20 e a União Européia produziu um ?degelo? nas relações entre os dois blocos, após o fracasso da Conferência Ministerial da OMC, realizada em Cancún. ?Foi nítido o aumento de boa vontade de parte do Lamy?, disse então Rodrigues.
Lamy disse na época que ?todos sabem que não seremos nós (os europeus), e sim os norte-americanos, a maior dificuldade para diminuir os subsídios domésticos?.
Itamaraty diz que Brasil tem confiança
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou ontem para o francês Pascal Lamy, futuro diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), e manifestou confiança de que ele contribuirá para fortalecer o sistema multilateral de comércio. Segundo nota do Itamaraty, Amorim tomou conhecimento na manhã desta sexta-feira da decisão do candidato uruguaio Carlos Perez del Castilho de sair da disputa, o que pôs Lamy na posição de candidato único, virtualmente escolhido.
No telefonema, Amorim lembrou que Lamy sempre demonstrou equilíbrio e lealdade nas negociações e contatos anteriores, mesmo quando defendeu, como comissário europeu, posições divergentes das brasileiras. Segundo a nota, Amorim reiterou também sua disposição pessoal e a do governo brasileiro de trabalhar em conjunto e em diálogo constante com o futuro diretor-geral para tornar a OMC mais democrática, transparente e receptiva às reivindicações dos países em desenvolvimento.
EUA
Os Estados Unidos também parabenizaram ontem o francês Pascal Lamy, ex-comissário do comércio europeu, pela vitória na disputa pela direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
?A experiência de Pascal em matéria de comércio internacional fará com que ele seja um forte defensor público da OMC como instituição e da abertura de mercados?, afirmou o representante para Comércio dos Estados Unidos, Rob Portman, em um comunicado.