Líderes da agropecuária brasileira reuniram-se ontem no Palácio do Planalto com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para denunciar a crise que atinge o setor e solicitar do governo medidas de apoio ao campo. ?A renda da agricultura, mensurada pelo Produto Interno Bruto (PIB), caiu 1,7% em 2004 e, para 2005, a projeção é de queda de 6% em decorrência da perda de 18,2 milhões de toneladas da produção de grãos e da redução dos preços de comercialização de importantes produtos agropecuários?, cita documento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entregue ao presidente da República.
O presidente da CNA, Antônio Ernesto de Salvo, argumentou que o setor agrícola tem sido responsável pelo bom desempenho da balança comercial e garantido alimentos a preços baixos no mercado interno, mas tem sofrido perda de renda, o que pode comprometer a capacidade de investimento em médio prazo. ?Embora a economia nacional se tenha beneficiado dos resultados do agronegócio, parte dos produtores rurais ficou alijada desse processo e encontra-se, eventualmente, impossibilitada de honrar os compromissos financeiros?, cita o documento da CNA. Antônio Ernesto de Salvo lembrou que a perda de renda, que reflete na incapacidade de pagamento de dívidas, pode comprometer também a geração de empregos no campo.
A perda de renda do setor rural pode ser medida também quando considerado o critério de ?relações de troca?. Na safra 2003/2004, o produtor precisava vender 17,65 sacas com 60 quilos de soja para comprar uma tonelada de fertilizante. Na safra 2004/2005, era necessário vender 31,1 sacas de soja para comprar a mesma tonelada de fertilizante.
Frente aos problemas enfrentados no campo, as lideranças rurais solicitaram ao presidente da República a implantação de quatro medidas em caráter emergencial: 1) alocação de R$ 2,4 bilhões no orçamento das Operações Oficiais de Crédito (2OC) para suporte à comercialização agropecuária na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM); 2) prorrogação dos financiamentos bancários dos empréstimos de custeio, investimento e das parcelas vencidas e a vencer em 2005 do Programa Especial de Saneamento de Ativos (Pesa) e da securitização das dívidas rurais; 3) alocação de recursos em linha de crédito para refinanciar dívidas dos produtores junto a fornecedores de insumos e máquinas; e 4) suspensão das importações predatórias de produtos agrícolas, a exemplo do arroz, trigo e milho, no âmbito do Mercosul.
No ano passado, por exemplo, o setor rural exportou US$ 39 bilhões e importou apenas US$ 4,8 bilhões, gerando um superávit de US$ 34 bilhões. Ou seja, a agropecuária sustentou o saldo positivo de toda a balança comercial brasileira, que foi superavitária em US$ 33,6 bilhões no ano passado.