Campo bate recordes e é destaque na exportação

A pecuária de corte obteve recorde de exportações em 2004, sendo um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no período. As remessas ao exterior alcançaram 1,8 milhão de toneladas e totalizaram US$ 2,5 bilhões. O rebanho do País é de aproximadamente 195 milhões de cabeças. Com esses resultados, o Brasil mantém o posto de principal exportador de carne bovina do mundo, superando Estados Unidos e Austrália. O bom desempenho aconteceu em virtude da recuperação dos preços pagos no mercado internacional pela carne bovina brasileira.

Na avaliação da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o Brasil conseguiu gerar excedentes de produção com qualidade e a preços competitivos, além de atingir o mercado de 140 países. A Rússia se tornou o principal comprador de carne bovina nacional ao adquirir 148 mil toneladas do produto in natura entre janeiro e novembro. O embargo russo em relação a carne brasileira, em vigor deste setembro, não prejudicou os resultados das exportações porque houve um acordo garantindo a remessa anteriormente contratada. A CNA acredita que o embargo seja derrubado em breve, pois o motivo para a decisão – o caso de febre aftosa no Amazonas – não possui sustentação técnica para a manutenção da medida. A Holanda foi a segunda maior importadora de carne brasileira in natura, seguida pelo Chile. Os países da União Européia foram responsáveis por 34% das receitas de exportações.

Mas nem tudo correu bem para os pecuaristas. Eles enfrentaram perdas que se acumulam desde 2003, o que resultou em queda da rentabilidade. De janeiro a outubro do ano passado, os preços pagos pelo boi gordo caíram 2,13% segundo pesquisa da CNA em conjunto com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP). No mesmo período, os Custos Operacionais Totais (COT) cresceram 9,04%. Esse cenário desestimula a produção, o que pode comprometer a atividade em médio prazo. A falta de renda implica em redução de investimentos. Isso pode ocasionar a queda na oferta.

De acordo com a confederação, o Brasil deverá manter a liderança no mercado mundial deste setor em 2005, com desempenho igual ou superior ao registrado no ano passado. A remuneração dos pecuaristas deve aumentar para evitar uma queda na oferta do produto. A entidade indica que a taxa de desfrute (percentual da participação do abate sobre o total do rebanho) no País é de 21% e, se atingisse 30%, permitiria ampliar o número de abates para 58,5 milhões de animais por ano. Seriam produzidas 11,8 milhões de toneladas de carne bovina para abastecer os mercados interno e externo sem a necessidade de aumentar a área de criação. Por causa do embargo da Rússia, que pode prejudicar o setor se a medida for mantida por mais tempo, a CNA defende uma atuação governamental rígida na erradicação da febre aftosa, principalmente nos estados do Norte e Nordeste e também apoiar ações deste tipo nos países vizinhos, o que protegeria ainda mais o rebanho nacional. Atualmente, cerca de 85% dos animais no Brasil está livre de aftosa, com ou sem vacinação.

Raio-x do agronegócio em 2004

– O PIB da agropecuária cresceu apenas 3%. O índice deve crescer 2,2% em 2005.

– O superávit do setor atingiu US$ 33 bilhões.

– O setor rural gerou 249.340 empregos formais no campo de janeiro a outubro.

– Os produtores tiveram que enfrentar alta nos preços dos insumos, com elevações superiores à inflação. Subiram 17%, considerando uma cesta de produtos formados por uréia, sulfato de amônia e adubos específicos para soja, milho, arroz e café.

– O segmento de carnes obteve um grande destaque. As exportações alcançaram 1,8 milhão de toneladas e faturamento de US$ 2,25 bilhões.

– A safra de grãos foi de 119,2 milhões de toneladas, 3,1% menor que 2003. Em 2005, estima-se que haverá um crescimento de 10 milhões de toneladas.

– Entre janeiro e novembro, o País produziu 60,1 mil toneladas e obteve US$ 81, 3 milhões em exportações de leite. O superávit na balança deste segmento foi de US$ 5,1 milhões.

– O café conseguiu um bom desempenho porque houve a gradual recomposição dos preços internacionais do produto. Nos 10 primeiros meses, foram exportadas 1.133.541 toneladas de café.

– A produção de cana-de-açúcar bateu recordes, atingindo 395 milhões de toneladas. Mas houve queda na renda dos produtores de 10,2% pelo Valor Bruto da Produção. As exportações de álcool ficaram em 2,2 bilhões de litros.

Fonte: Confederação Nacional da Agricultura.

Valorização do real derruba negócios

A agropecuária brasileira participou com US$ 33 bilhões na balança comercial em 2004, cerca de 27% superior ao ano anterior. Os bons resultados vieram do aumento dos volumes exportados e também da recuperação dos preços médios em relação a 2003, apesar da queda dos valores das commodities no segundo semestre.

O preço médio da tonelada do complexo de carnes foi de US$ 1,441 entre janeiro e outubro, 21,9% a mais do que o mesmo período de 2003. Os valores médios do complexo de soja (grão, farelo e óleo) foram 25% superiores.

Segundo a Confederação Nacional da Agricultura, no ano passado o País diversificou os produtos vendidos no exterior e ampliou a quantidade de destinos. Além das carnes e dos grãos, os destaques foram o algodão e o trigo.

A balança comercial da agropecuária só não foi melhor depois da valorização do real perante ao dólar, atingindo a cotação de R$ 2,70, o que trouxe efeitos negativos nas exportações. O ideal seria o dólar a R$ 2,90 ou mais. Para a entidade, a estimativa de aumento da produção nacional na próxima safra (130 milhões de toneladas) não será suficiente para alavancar um excelente desempenho em 2005, pois a tendência de queda das principais commodities vai permanecer. (JC)

Setor responde por um terço do PIB

O Produto Interno Bruto (PIB) do setor de agropecuária obteve um crescimento de 3% em 2004, enquanto o da economia brasileira pode alcançar um incremento de 4,5% no mesmo período. O agronegócio representou 30,4% do PIB total do Brasil e acumulou R$ 524,5 bilhões. Este panorama é bem diferente de 2003, quando o crescimento do PIB da agropecuária foi de 12%. Os dados são da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que revela um cenário pessimista em 2005, quando é aguardado um crescimento de 2,2%.

Nos últimos anos, o agronegócio apresentou índices muito acima da média da economia nacional. O panorama de 2004 demonstrou a série de dificuldades pela qual o segmento passou. O chefe do departamento econômico da CNA, Getúlio Pernambuco, afirma que este quadro foi construído pela quebra da safra brasileira, quando aconteceu excesso de chuvas na região Centro-Oeste e uma forte seca no Sul. Isso causou perdas de 10 milhões de toneladas de grãos.

Além disso, houve o aumento dos custos da produção e o recuo dos preços médios das commodities da mercadoria agropecuária, ocasionado pelo aumento mundial da produção e pela permanência de grandes estoques. "Em 2005, a renda da agropecuária vai continuar aumentando, mas em um ritmo bem mais lento que 2004. O cenário pessimista dos preços médios, em função da super produção norte-americana, vai continuar. Isto vai causar impacto significativo na renda dos produtores rurais", avalia Pernambuco.

O crescimento menor previsto para a economia brasileira neste ano vai afetar diretamente o desempenho da agropecuária, apesar de ser um setor que influencia muito nos resultados do País. "Vai ocorrer a redução na demanda de produtos agropecuários porque a renda da população será menor. Se o PIB brasileiro crescesse mais, isto poderia afetar positivamente o mercado interno, o que contrabalançaria uma provável queda nas exportações", revela o integrante da CNA. (JC)

Produção cai, mas área plantada aumenta

A produção brasileira de grãos no ano passado foi 3,1% menor do que em 2003, atingindo a marca de 119,2 milhões de toneladas. Em compensação, houve crescimento de 7,9% na área plantada, totalizando 47,5 milhões de hectares. No caso da soja, as previsões de colheitas foram reduzidas em 10 milhões de toneladas e prejuízos de US$ 2 bilhões devido às chuvas excessivas no Centro-Oeste e as secas no Sul, além da incidência de ferrugem asiática sobre as lavouras. As informações são da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

Segundo a entidade, outro duro golpe para os produtores de soja foi o embargo da China, que alegava contaminação do produto brasileiro e presença de agroquímicos específicos para sementes nos lotes exportados. Isso causou uma queda nos valores pagos. Mas os bons preços das commodities no primeiro semestre fizeram com que o produtor compensasse as perdas da colheita de soja.

Já o milho, o feijão e o trigo tiveram quedas de preços durante todo o ano em função da falta de políticas de sustentação do governo (preços de comercialização abaixo dos valores estabelecidos na Política de Garantia de Preços Mínimos), o que desestimulou os produtores, de acordo com a confederação. Os agricultores tiveram que arcar sozinhos com as perdas na produção e dificuldades no mercado.

Para 2005, o cenário para este setor não é nada animador, apesar da estimativa de crescimento da safra brasileira para 128,8 milhões de toneladas. Os preços das commodities estão em tendência de queda depois do anúncio da supersafra nos Estados Unidos, atingindo diretamente as intenções de plantio. Os americanos irão produzir 85 milhões de toneladas de soja e 280 milhões de toneladas de milho.

A produção brasileira de milho deverá crescer entre 1,5% e 4% em relação à colheita passada em função das previsões de clima favorável e condições normais de plantio, e não pela aposta de bons rendimentos deste produto. A CNA acredita que muitos produtores de milho, trigo e feijão vão migrar para a soja, mesmo com a queda das commodities. A área plantada e a produção de arroz devem diminuir porque houve redução do preço no mercado interno devido às importações do Uruguai e da Argentina.

A entidade alerta os agricultores sobre as dificuldades da infra-estrutura do País. As condições de estradas e portos com capacidade limitada para atender os embarques vão prejudicar o escoamento da produção e também o faturamento dos produtores, pois auxiliam na queda dos preços pagos. A CNA também chama a atenção quanto ao clima. Há preocupação em relação ao fenômeno El Niño, que já foi previsto pelo Instituto Nacional de Meteorologia. A intensidade desse fator climático pode trazer impactos negativos nas lavouras. (JC)

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