Com o objetivo de incentivar o consumo da carne suína “in natura”, será lançada na próxima terça-feira (19), em Curitiba, a campanha estadual “Carne Suína 100% Branca, Sabor e Saúde”. Iniciativa da Câmara Setorial de Suinocultura do Paraná, o projeto terá como foco a desmistificação do produto. Através de ações de marketing nos supermercados durante três meses, as entidades participantes da Câmara pretendem mostrar que a carne de porco é muito saborosa e saudável, ao contrário do que pensa a maioria da população.

A idéia da campanha surgiu em setembro para minimizar a crise da suinocultura. Segundo maior produtor de suínos do País, o Paraná ampliou em 23% sua produção nesse ano (passando para quase 5,2 milhões de cabeças) prevendo um aumento de consumo que não se confirmou. Houve um excedente de suínos no mercado – verificado também em âmbito nacional -que acarretou redução do preço pago aos produtores. O rebanho de Santa Catarina, o maior produtor, cresceu 9%, e o do Rio Grande do Sul, 19%. Reduzir a produção foi uma alternativa descartada porque levaria doze meses e muitos produtores poderiam quebrar nesse período.

O chamariz da campanha paranaense será a inserção de materiais de “merchandising” nos pontos de venda. Além da figura de um leitão, a campanha conta com a imagem do reconhecido chef de cozinha paranaense Celso Freire, que elaborou um cardápio à base de carne suína especialmente para a ocasião. A cada quinze dias, será divulgado um novo prato criado pelo chef, totalizando seis receitas até o final da campanha.

A promoção está sendo feita pela Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne/PR), Associação Paranaense de Supermercados (Apras) e Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná/ Departamento de Economia Rural (Seab/Deral). O investimento inicial foi de R$ 12 mil, na contratação do gourmet e confecção de cem kits de banners, cartazes e folders que serão vendidos aos supermercados e fornecedores por R$ 600. Os custos foram cobertos com recursos do Fundo de Marketing da Carne Suína, que recebe R$ 0,10 de cada animal abatido no Estado.

Consumo

Por causa da influência cultural européia, o consumo anual de carne suína no Paraná (21 quilos per capita) é bem superior à média nacional (11 quilos per capita). Mas em alguns países europeus o consumo ultrapassa 60 quilos por ano. Em média, o brasileiro consome apenas quatro quilos por ano de carne suína in natura e nove quilos do produto transformado (presunto, lingüiça, salame). Pesquisas recentes mostram que os brasileiros apreciam o paladar, mas 35% acreditam erroneamente que a carne suína faz mal e 55% que possui muita gordura e colesterol.

Em Santa Catarina, primeiro estado a lançar uma campanha nos moldes da que será iniciada no Paraná, o consumo de carne suína já cresceu 30%. No Paraná, alguns supermercados já reduziram o preço da carne suína desde setembro. “Nos últimos meses percebemos que a demanda de carne suína in natura cresceu muito. Famílias que tinham o hábito de consumir uma vez por semana passaram a consumir três vezes”, relata Romeu Carlos Royer, presidente da APS.

“Com a adesão à campanha e com a venda da carne suína por preços mais baixos, estamos contribuindo para ampliar as opções de aquisições dos consumidores e alterar o perfil de consumo, que se concentra na carne bovina”, ressalta Joanir Zonta, presidente da Apras.

O presidente do Sindicarne/PR, Péricles Salazar, considera válida a campanha, mas teme pela falta de continuidade. “A expectativa é que alguma coisa possa melhorar, mas não se consegue mudança de hábito de consumo com uma campanha pontual”, opina. “Seria necessário um prazo mínimo de dois anos, uma campanha publicitária intensa, de alto nível, nos principais mercados consumidores do Brasil. Isso custa milhões e não temos dinheiro para continuar”.

Produtores continuam enfrentando dificuldades

Olavo Pesch

Em 2001, as exportações paranaenses de carne suína alcançaram o patamar de 23 mil toneladas. Em valores, significou US$ 36 milhões, representando 8% da produção estadual inspecionada e 10% das exportações brasileiras. Nesse ano, houve queda nas exportações para Argentina, que comprava 15% do total exportado pelo Brasil. Além disso, a situação dos produtores brasileiros se agravou com a alta do dólar, que elevou o preço dos insumos como o farelo de soja e milho – cujo preço médio subiu 175% em relação à média do ano passado.

Os preços pagos aos suinocultores evoluíram desde o auge da crise, em setembro, porém ainda estão abaixo do custo de produção. Há dois meses, os produtores paranaenses recebiam em média R$ 1 por quilo de suíno vivo. Hoje ganham ao redor de R$ 1,50, só que o custo subiu para R$ 1,90. Só o saco de milho de 60 quilos, que no ano passado custava cerca de R$ 15 nessa época, passou para R$ 28 em média, pressionado pela alta da cotação internacional e escassez do produto no mercado. Com essa elevação de custos, o quilo do suíno chegaria ao consumidor por R$ 6 a R$ 7.

“A indústria não tem como pagar mais para os produtores porque não consegue vender os produtos mais caros para os supermercados”, alega Péricles Salazar, presidente do Sindicarne/PR. “O preço ao consumidor continua sendo o foco, mas não adianta um elo da cadeia ter prejuízo para beneficiar outro”, destaca Romeu Royer, presidente da APS. Para remunerar a cadeia, com o produtor recebendo R$ 1,90 pelo quilo da carne suína (cobrindo os custos), a carne deveria custar entre R$ 3,90 e R$ 4,20 ao consumidor, pelos cálculos da APS. “Mas em muitos momentos o varejo pratica um preço maior”, aponta.

Uma das alternativas articuladas pela APS com as cooperativas é a possibilidade de reduzir o preço do milho. Atualmente, os produtores do Estado recebem em média R$ 23 por saco de 60 quilos. “Como chove bem e a safra plantada deve dar uma boa produção, não justifica pagar mais de R$ 20 ao produtor. Se passar muito disso, inviabiliza qualquer segmento de proteína animal”, cita Royer. Com o milho a R$ 20, ele estima que o preço ao consumidor cairia entre 12% a 20%.

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