Participantes do lançamento da campanha. |
A Câmara Setorial da Suinocultura do Paraná iniciou ontem a campanha “Carne Suína Sabor e Saúde”, cujo objetivo é aumentar em 30% o consumo de carne suína in natura no Estado até março de 2003. Esse foi o incremento conseguido em campanha similar feita em Santa Catarina. O lançamento oficial ocorreu na sede da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), em Curitiba. Criada para amenizar a crise da suinocultura, a campanha consistirá em ações de marketing nos pontos de venda, tendo como garoto-propaganda o chef de cozinha paranaense Celso Freire, que criou seis receitas exclusivas para a promoção.
A desmistificação da carne suína será o foco da campanha, apoiada pela Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Sindicato da Indústria da Carne e Derivados (Sindicarne), Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, através do Departamento de Economia Rural (Seab/Deral) e Associação Paranaense de Supermercados (Apras). Pesquisa recente mostra que 92% dos brasileiros consideram o produto saboroso, mas acreditam erroneamente que faz mal (35%) e possui muita gordura e colesterol (55%).
“Nos últimos 30 anos houve redução de 30% no colesterol e 40% na gordura, por isso hoje a carne suína se enquadra nas carnes brancas”, cita o presidente da Apras, Joanir Zonta. No Brasil, 75% da carne suína é consumida em forma de embutidos (lingüiça, salame, presunto) e só 25% in natura. “Em média, a carne suína é 40% mais barata que a bovina, com os mesmos nutrientes”, destaca Zonta. O quilo de carne suína in natura varia entre R$ 3 e R$ 3,50 nos supermercados do Paraná.
Para o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores, Romeu Royer, a importância da campanha reside na conscientização. “Vejo a campanha muito mais como uma forma de criar hábito de consumo”, afirma. No Brasil, o consumo anual de carne brasileira é de 11,6 kg per capita. Royer acredita que até o final de 2003 será possível elevar o consumo anual per capita para 15 kg. No Paraná, o consumo está bem acima da média nacional (21 kg). “A média européia é 48 kg e na Dinamarca chega a 75 kg”.
Marketing
A APS e o Sindicarne investiram inicialmente R$ 12 mil na contratação do gourmet e na confecção das peças publicitárias (banners, displays e folhetos), com recursos do Fundo de Marketing da Carne Suína, que recebe R$ 0,10 de cada animal abatido no Estado. Os supermercados terão que adquirir os kits da campanha, que custam R$ 600. A promoção começa por Curitiba e Região Metropolitana, mas a idéia é atingir os estabelecimentos de todo o Estado. “As 2.480 lojas devem participar da ação”, espera Zonta.
“A população está bitolada em bisteca, lombo e pernil, mas existem muito mais formas de trabalhar a carne suína em pratos sofisticados e simples”, ressalta o chef Celso Freire. “Vamos destacar cortes não comuns, para abrir o leque de opções quando as pessoas forem ao supermercado”, acrescenta. “Pela qualidade que existe hoje, há possibilidade de aumentar em cinco vezes o consumo de carne suína”, aponta Zonta, salientando que esse crescimento permitirá ao Paraná, dono do segundo maior rebanho de suínos do País, manter produtividade alta.
Setor enfrenta problemas
Olavo Pesch
Apesar da recuperação do preço pago aos produtores por quilo de suíno vivo (ao redor de R$ 1,35 no Paraná), a suinocultura ainda enfrenta muitas dificuldades. Ontem, durante a solenidade de lançamento da campanha de incentivo ao consumo de carne suína, o presidente da APS Romeu Royer cobrou dos representantes dos governos estadual e federal definições para a falta de milho. Em Santa Catarina, estado que possui o maior rebanho de suínos do País, a situação está crítica. “Muitos produtores estão matando leitões porque não tem como alimentar”, conta o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, Paulo Tramontini.
Para ele, a escassez de milho no mercado brasileiro é “irresponsabilidade do governo, por causa da má administração de estoques”. “O Paraná não pode continuar exportando milho de excelente qualidade para países competidores do Mercado Comum Europeu”, comenta. Para 2003, Tramontini prevê redução da oferta no mercado interno. “Muitos produtores vão abandonar a atividade e muitas agroindústrias exportadoras não poderão cumprir seus compromissos lá fora”. Mas ele acredita que os programas de combate à fome anunciados pelo presidente eleito Lula auxiliem na ampliação do consumo de carne suína.