Campanha quer aumentar o consumo
em três quilos per capita.

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A campanha de incentivo ao consumo de carne bovina, que já teve o pontapé inicial em São Paulo, no mês passado, deve chegar ao Paraná em setembro. A informação é do presidente do Instituto Pró-Carne, Antenor Nogueira, também presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte na Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). O objetivo é investir R$ 8 milhões em marketing, na tentativa de alavancar o consumo de carne vermelha no País.

De acordo com Nogueira, o consumo per capita de carne bovina reduziu cinco quilos em dez anos. Atualmente, o consumo é de 36,5 kg a 37 kg per capita ao ano – bem abaixo dos 54 kg na Argentina e 50 kg no Uruguai. Com a campanha, o objetivo é aumentar o consumo em três quilos per capita nos próximos 18 meses.

?O mercado interno é, sem dúvida, nosso maior mercado. Responde por quase 80% de toda a nossa produção?, apontou Nogueira. Segundo ele, o objetivo da campanha é mostrar as qualidades nutricionais da carne bovina e também desmistificar a idéia de que a carne vermelha faz mal à saúde. Ainda de acordo com Nogueira, ?a campanha irá mostrar que um quilo de carne é um quilo de carne. Não tem osso, não tem pele?, disse, referindo-se à carne de frango, que ocupou grande parte do espaço deixado pela carne vermelha.

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Segundo Nogueira, o Brasil tem produção suficiente para atender o aumento da demanda. ?Para cada um quilo (per capita) de carne, é preciso abater um milhão de bois. Como o objetivo é aumentar em três quilos, significa que serão três milhões de bois a mais?, apontou. Nogueira não acredita que o aumento de demanda altere os preços da carne para o consumidor. ?Não existe a menor relação com o preço. Os frigoríficos estão trabalhando com 10 a 15 dias de escala. Existe um excedente no processo.?

Ele chamou atenção ainda para o preço baixo pago pela arroba do boi ao produtor: cerca de R$ 48,00 – o mesmo valor, segundo ele, praticado em meados de 94. ?Enquanto isso, nos dois últimos anos a carne aumentou cerca de 15,2% (no varejo). Só o cupim subiu 28,6% em dois anos.? Nogueira apontou ainda que o setor produtivo não vem se beneficiando com o aumento das exportações.

Sindicarnes-PR

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O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Paraná (Sindicarnes-PR), Péricles Salazar, elogiou a iniciativa dos produtores em tentar aumentar o consumo de carne bovina. Mas ponderou que o aumento num curto espaço de tempo pode gerar problemas, como a alta nos preços. O aumento do consumo de três quilos per capita representa cerca de 560 mil toneladas a mais de carne. ?Nesse momento, isso poderia pressionar o preço da carne?, avaliou, acrescentando que o aumento do consumo deveria ocorrer, mas gradualmente.

Segundo Salazar, Curitiba e Região Metropolitana apresentam o consumo per capita de carne bovina acima da média nacional: cerca de 50 kg ao ano. Segundo ele, o motivo é a maior concentração da renda. Para o presidente do Sindicarnes-PR, para que o consumo de carne bovina realmente cresça é necessário que os preços se tornem também mais acessíveis. E, nesse caso, seria preciso mexer com a margem de lucro dos supermercados, especialmente das grandes redes.

?Só os supermercados poderiam mexer nos preços. O produtor está no limite, a indústria também. Os únicos com gordura para queimar seriam os supermercados?, apontou Salazar. Segundo ele, a margem de lucro dos varejistas sobre a carne bovina oscila entre 20% e 60%. ?Quanto mais sofisticado o produto, maior a margem de lucro?, apontou.

Questionado se não seria o momento de tentar negociar com os supermercados, na tentativa de reduzir o preço da carne vermelha para o consumidor, o presidente do Instituto Pró-Carne, Antenor Nogueira, afirmou: ?É difícil negociar com as grandes redes. Os produtores não têm gestão sobre isso.? 

Exportações aumentaram 30% no semestre

As exportações brasileiras de carne bovina aumentaram 30% de janeiro a junho deste ano, na comparação com o mesmo período de 2004. Nos primeiros seis meses do ano, no total, foram exportados US$ 1,4 bilhão, o que representa 1,1 milhão de toneladas. Esse valor inclui carne ?in natura?, industrializada e miúdos. Os dados foram divulgados ontem pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

Em junho, o setor vendeu para o exterior US$ 301 milhões, o que representa uma alta de quase 32% sobre as exportações de junho do ano passado. No mês passado, foram embarcadas 226 mil toneladas de carne. Para o presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, a alta não surpreende.

?Para o ano, mantemos a previsão de exportar US$ 3 bilhões, mantendo a média mensal entre US$ 250 milhões e US$ 300 milhões. O câmbio é a maior dificuldade para o aumento das exportações. Elas só continuam crescendo porque conseguimos uma melhora de preço em alguns mercados?, afirma Pratini.

De acordo com ele, o embargo à carne brasileira promovido pelos Estados Unidos não teve um impacto maior sobre o faturamento do setor. A liberação ocorrida na segunda quinzena de junho é válida para seis frigoríficos. O setor espera que esse número suba em breve. Para ele, nem mesmo essa abertura deve alterar as previsões de exportação para o ano.

?No ano passado, tivemos uma alta de 60%. Neste ano, será de 20%. Houve uma redução do ritmo de crescimento porque estamos perdendo competitividade. O ano de 2006 pode ser bem complicado se o dólar não voltar a valorizar?, diz o presidente da Abiec.

Entre os principais importadores de carne brasileira ?in natura?, estão Rússia, Egito, Holanda, Inglaterra e Itália. Segundo Pratini, as vendas para Bulgária, Rússia e Argélia são as que mais crescem.