Foto: Allan Costa Pinto
Distribuição de ?santinhos?
 no centro da cidade.

Eles não engrossam o mercado de trabalho formal, não aparecem nas estatísticas, são pouco remunerados, mas têm papel fundamental nos próximos três meses. São os cabos eleitorais, que ainda estão trabalhando de forma tímida no centro e alguns cruzamentos da cidade, mas que vão se multiplicar nas próximas semanas, à medida que o dia das eleições municipais (5 de outubro) se aproximar. A campanha eleitoral mexe ainda com outros setores da economia, com destaque para a indústria gráfica – responsável pela produção de santinhos, panfletos, jornais, bandeiras, faixas, banners -, empresas de publicidade e propaganda, além de alimentação, transporte, telecomunicação.

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?Não há levantamento, pesquisa que identifique o número de trabalhadores temporários por conta das eleições, nem a massa de renda que entra na economia. Mas apesar de toda a movimentação, não é algo tão significativo assim?, ponderou o chefe do Departamento de Economia da UniFae, Gilmar Lourenço. Só em Curitiba, os partidos prevêem gastar R$ 48 milhões – soma de todos os valores declarados à Justiça Federal.

Para Lourenço, mais importante do que essa soma de valores é quanto os governos dos três níveis – municipal, estadual e federal – gastam em anos eleitorais. ?São serviços, obras públicas que não seriam realizadas caso não houvesse eleição?, disse. Sobre os cabos eleitorais, Lourenço destacou que se trata de um serviço precário, que não exige qualquer tipo de qualificação do candidato e o salário é baixo. ?Acho que não chega a R$ 30 por dia. É um bico para completar a renda da família ou para um estudante viver menos dependente da família por dois ou três meses?, resumiu.

Partidos

Em consulta ao partidos políticos que vão disputar a eleição de Curitiba, a coligação que lançou Gleisi Hoffmann (PT) como candidata já contratou 400 temporários até agora, segundo a assessoria de imprensa. ?É o pessoal de apoio, de comunicação e vários outros?, explicou. A assessoria não informou qual a estimativa de contratação até a data da eleição. Ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), a coligação fez estimativa de gastos de R$ 14 milhões.

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De acordo com Mateus Maranhão, coordenador da campanha do deputado estadual Fábio Camargo (PTB) – candidato que fez a previsão mais elevada de gastos para a campanha eleitoral: R$ 14 milhões -, cerca de 1,5 mil pessoas devem trabalhar na campanha, entre voluntários e contratados. Segundo Maranhão, a contratação de cabos eleitorais ainda não começou. ?A população ainda não está ligada nas eleições. A partir do dia 19 de agosto, quando começa o horário eleitoral no rádio e na tv, é que a campanha vai ganhar força?, disse. Segundo ele, os cabos eleitorais geralmente têm vínculo com algum filiado do partido. ?São pessoas que aproveitam esse período para ganhar um dinheiro extra.?

O coordenador de campanha do candidato Carlos Moreira (PMDB), Rasca Rodrigues, informou que a fase ainda é de captação de recursos e que não há previsão de temporários a serem contratados durante toda a campanha. ?Vamos começar com duzentas pessoas?, disse. Indefinição também quando o assunto é o salário a ser pago. ?O que baseia a campanha eleitoral é a voz do corredor, é aquilo que se troca de informações entre os candidatos. Se um cabo eleitoral ganha menos, ele vai trabalhar para quem paga mais?, disse. E acrescentou: ?O próprio mercado vai estipular os valores que serão pagos aos cabos eleitorais.?

Voluntários

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Na ponta contrária, o candidato que declarou o menor valor a ser gasto durante a campanha – R$ 100 mil -, Bruno Meirinho, do PSOL, não deve contratar cabos eleitorais, segundo a assessoria de imprensa. ?Todos os militantes são voluntários, nenhum cabo eleitoral será contratado. Primeiro, porque o orçamento não comporta e, segundo, porque faz parte da política do partido trabalhar apenas com quem está envolvido no projeto.?

Oportunidade para ganho extra

Desempregado há duas semanas, o cabo eleitoral Edson Campos, 22, aproveitou o período de campanha eleitoral para fazer um bico. ?Vou torcer para a candidata vencer, mas não quero estar aqui até as eleições?, disse o rapaz, que continua procurando trabalho com carteira assinada, enquanto agita a bandeira do partido. Para trabalhar na campanha, Edson diz que vai receber R$ 416,00 líquidos, além de vale-transporte e vale-refeição de R$ 7,00 por dia. O dinheiro já tem destino: vai para uma poupança. ?Estou querendo casar, construir uma casa?, disse.

Para Regina Aparecida de Carvalho, 19, trabalhar como cabo eleitoral também é uma oportunidade para garantir um dinheiro extra. ?Nunca tinha trabalhado. Com esse dinheiro, vou pagar contas, comprar roupas?, disse Regina, que também vai receber um salário mínimo.

Por amor ao partido, o inspetor de escola Jair Cardoso de Oliveira, 53, está aproveitando as férias para trabalhar na campanha. ?Quando as aulas recomeçarem, vou continuar na campanha?, disse. Segundo Oliveira, as pessoas que trabalham em campanhas do partido geralmente são por indicação. Também por amor à bandeira, a manicure Alessandra da Silva, 34, vai deixar o serviço autônomo nos próximos três meses para se dedicar à campanha. ?Como manicure, ganho cerca de R$ 600 ao mês. Aqui, vou receber um pouco menos, mas vai valer a pena?, disse.

Gráficas esperam aumentar faturamento em até 20%

Toneladas e mais toneladas de papéis já têm um destino certo: vão se transformar em santinhos, panfletos e jornais nos próximos dias. O presidente do Sindicato da Indústria Gráfica no Paraná, Sidney Paciornik, aposta que a campanha eleitoral aumente em 20% o faturamento das empresas do setor, de maneira geral. ?Apenas algumas gráficas, cerca de 20% do total, sofrem o efeito direto das eleições. Por algum motivo – ou porque tem relacionamento com o candidato ou porque conta com estrutura adequada – algumas se tornam fornecedoras de material para os políticos?, comentou.

De maneira indireta, porém, praticamente todas acabam se beneficiando do trabalho extra. ?É um trabalho penoso, muito urgente e que exige muitos cortes para fazer o santinho. Há gráficas que precisam fechar para outros clientes e ficar apenas com os políticos. Acabam passando serviço para outras. Nesse caso, as gráficas menores também se beneficiam?, disse.

O período eleitoral é curto e exige muito trabalho. ?Algumas gráficas chegam a dobrar a quantidade de serviço nesta época, a ponto de criar turnos extras, fazer contratações?, lembrou Paciornik. ?Dá uma boa aquecida no setor.? Os santinhos são os campeões. ?Um santinho na mão certa, na hora certa, pode significar um voto para o candidato. Não é a única ferramenta de campanha, mas é importantíssimo?, salientou. Em todo o Paraná, há cerca de 1,2 mil gráficas – aproximadamente 400 na Grande Curitiba. O setor emprega no Estado cerca de 10 mil pessoas.