Caminhoneiros do Paraná não devem aderir à paralisação nacional marcada para os dias 25 a 27 de julho, pela aplicação eficaz da Cide (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico) e melhoria das rodovias. A informação é do vice-presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos no Paraná (Sindicam-PR), Laertes José de Freitas. Segundo ele, representantes da Frente Nacional do Transporte Rodoviário de Carga – que engloba seis entidades, entre elas a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), que está organizando a paralisação, e o Sindicam – têm reunião pré-agendada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima quinta-feira, em Brasília. “Enquanto estivermos em negociação com o governo, não é viável que haja uma paralisação”, aponta o vice-presidente do Sindicam-PR.
Ele conta que as lideranças nacionais dos caminhoneiros criaram a Frente Nacional no final do ano passado com o objetivo de realizar ações em conjunto. “As lideranças eram desunidas, mas com a Frente ficou acertado que todos decidiriam juntos, ninguém falaria ou tomaria decisão isoladamente. Infelizmente, não foi o que aconteceu”, desabafou Freitas, referindo-se à iniciativa da Abcam em realizar a paralisação de três dias. “O Fonseca (José da Fonseca Lopes, presidente da Abcam) resolveu jogar no lixo tudo o que foi conversado”, criticou.
Mesmo com a ampla divulgação do “paradão nacional”, Freitas não acredita no êxito do movimento no Estado. “Acreditar que o caminhoneiro vai ficar em casa dois ou três dias é acreditar em Papai Noel”, ironiza. “A não ser que os embarcadores de soja também parem, ou que tranquem as rodovias.” Para ele, o Paraná só deve aderir ao ?paradão? caso o governo não atenda a nenhuma das reivindicações da categoria. Além da liberação da Cide, Laertes aponta como prioridade a liberação da AET (Autorização Especial de Transporte), para o trânsito de bitrens.
Surpresa
O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, recebeu com surpresa a informação de que o Sindicam-PR não apóia a paralisação. “A decisão foi de comum acordo. Acredito que houve um mal-entendido mas, se o Sindicam-PR de fato não apoiar o movimento, considero isto uma traição”, afirmou. Fonseca admitiu que o ?paradão nacional?, decidido em assembléia nos últimos dias 19 e 20, pode ter ?atropelado? o encontro com o presidente da República, mas só descarta a suspensão do movimento caso o governo realmente se comprometa a liberar a Cide e anunciar isso à imprensa. “Todo mundo está trabalhando em favor de uma necessidade nacional. Não posso deixar de atender os apelos da categoria e adiar uma situação que é inadiável”, falou. “O que queremos é apenas o cumprimento da lei. O Laertes (Sindicam-PR) deve estar sendo atraído pelo ?canto da sereia? do governo.”
Desde que a Cide foi criada pela Lei n.º 10.336/2001, estima-se que tenham sido arrecadados R$ 18 bilhões. A previsão legal é de que os recursos deveriam ser investidos na infra-estrutura de transportes, no subsídio do álcool e do gás e nos programas de proteção ao meio ambiente e ao transporte urbano. Contudo, alega Fonseca, o Ministério da Fazenda destina os recursos para o pagamento de contas atrasadas a empreiteiras, salários de funcionários, custos de viagens, entre outros.
O objetivo da paralisação, afirma a Abcam, é lutar pela recuperação da infra-estrutura do setor de transportes, com cumprimento da lei pelo governo e a efetiva aplicação dos recursos da Cide. A cada litro de gasolina vendido, R$ 0,18 vão para a Cide. No caso do álcool são R$ 0,07 por litro.
De acordo com José da Fonseca Lopes, é preciso R$ 8 bilhões para recuperar as estradas brasileiras, menos da metade do que já foi arrecadado pela Cide até hoje, mas nada está sendo feito pelo governo. A expectativa, segundo ele, é que o movimento tenha adesão de 95% da categoria. No País, há cerca de 450 mil caminhoneiros autônomos e frota aproximada de 1,260 milhão de caminhões.