Durante a greve dos caminhoneiros, os manifestantes argumentavam que a atividade de transporte rodoviário era economicamente inviável. Estudo do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), elaborado a pedido do jornal O Estado de S. Paulo, mostra que a situação da categoria se deteriorou bastante desde 2014. Em 2016 e 2017, a atividade trabalhou no vermelho e, hoje, gera renda perto de zero. No acumulado de 2018, a margem de lucro ficou em 3%. Ou seja: após fazer um frete de R$ 10 mil, o profissional ficará com R$ 300 nas mãos após os custos.

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Apesar de a atividade ter saído do fundo do poço, quando exigiu margens negativas de até 15%, a situação do setor ainda é muito delicada, de acordo com Maurício Lima, diretor do Ilos. Além de o frete mal cobrir os custos do caminhoneiro, apesar da melhora da economia desde 2017, o especialista diz que esses profissionais estão endividados por causa do movimento de troca de veículos na época do ProCaminhoneiro, programa de financiamento do governo Dilma.

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O transporte rodoviário viveu a “tempestade perfeita”. Graças ao financiamento de caminhões com juro baixo, a frota cresceu no momento em que a demanda por frete despencou junto com a economia, que retraiu 7% em 2015 e 2016. Em crise, as empresas, além de contratarem menos, também reduziram os preços pagos pelo transporte de mercadorias. “O caminhoneiro ficou sem nenhum poder de barganha.”

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Diante do baixo retorno da atividade atualmente, os caminhoneiros buscam saídas para continuar trabalhando enquanto os preços praticados não melhoram. Embora seja difícil economizar em combustível – item que pode chegar a quase 50% dos custos em viagens de longa distância, segundo a Ilos -, Lima diz que os motoristas podem recorrer a “gambiarras” para adiar gastos com manutenção do veículo, por exemplo – a despeito do perigo que essa decisão pode representar.

Aperto

A empresa de tecnologia Cargo X, que funciona como elo entre transportadores e cargas chegou ao mercado justamente em meio à crise do setor. Hoje, a empresa, que tem 300 mil caminhões cadastrados em sua plataforma, que trabalha no sistema “spot” – ou seja, contratados de imediato, e não por meio de acordos de longo prazo.

Segundo Federico Vegas, fundador e presidente da Cargo X, o atual preço do frete reflete uma relação de oferta e demanda desequilibrada. O executivo estima que mais transportadoras deverão sair do mercado antes de o preço médio do frete voltar a ser economicamente viável. Segundo ele, 30 mil transportadoras desistiram de operar em 2017.

Embora hoje se ocupe de atividades feitas por transportadoras, a Cargo X, que já recebeu US$ 35 milhões em investimentos, se define como uma plataforma de tecnologia que visa a aumentar a produtividade do movimentação de cargas. “Hoje, 40% dos caminhões fazem a viagem de volta vazios”, diz ele, lembrando que isso compromete o já quase nulo ganho atual dessa atividade.

O ganho de produtividade, diz Vegas, é especialmente importante em um mercado deprimido como o atual. Além da redução da oferta de caminhões, ele diz que não existirá milagre para o reajuste do preço do frete. Tudo dependerá da retomada da economia. “As empresas tiverem fortes perdas de margem (com a crise). Então, todo mundo está focado em cortar custos, em sobreviver.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.