A combinação do câmbio atual, da elevada taxa de juros, do chamado Custo Brasil, alta carga tributária e da ineficiência da infraestrutura pode resultar na extinção de uma indústria que produz bens de alto valor agregado no País. Esta é a opinião da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que promoveu nesta quarta-feira (10) o encontro Brasil: Potência ou Colônia, em Curitiba.
De acordo com o diretor secretário da entidade, Carlos Pastoriza, o Brasil está focado nos resultados que as commodities minerais e agrícolas têm trazido à balança comercial, esquecendo-se da indústria da transformação. O País tem priorizado a matéria-prima e deixado de lado o produto com valor agregado, que entra muitas vezes no mercado interno pela exportação. Por isto a comparação com a época colonial do Brasil. “O País está retornando para uma economia primária”, afirma.
O setor industrial tem sofrido com o real valorizado e a alta taxa de juros. Pastoriza citou, durante a sua palestra no evento, que se este panorama não mudar a curto prazo, as empresas que produzem máquinas se tornarão apenas importadoras de equipamentos. “E isto já está acontecendo, para poder sobreviver”, revela.
O diretor ressaltou que a indústria de transformação registrou um déficit de US$ 100 bilhões entre 2004 e 2011. Atualmente, 40% das máquinas consumidas no País são da indústria nacional. O restante é importada. Em 2004, a proporção era contrária. “As commodities mascaram o desempenho da indústria. Hoje, o equipamento da Europa já está mais barato do que o brasileiro. Não são nem mesmo os asiáticos”, avalia Pastoriza.
Ele elogiou o pacote de medidas lançado na semana passada pelo governo federal, intitulado de Brasil Maior, para conter a desindustrialização do País. Entre as medidas anunciadas estão a desoneração de folha de pagamento para alguns setores produtivos, política tributária para montadoras e devolução de impostos. A partir de agora, há isenção de tributos federais na aquisição de equipamentos. “O Brasil é o único país do mundo onde se tributa quem compra maquinário”, explica.
No entanto, Pastoriza disse que o plano não é suficiente para recuperar o prejuízo que o segmento industrial no Brasil já apresenta. “Não há plano que vai corrigir a perda de competitividade que temos por causa do dólar desvalorizado. Este é o nosso maior desafio, que não é fácil de vencer. Com esta política cambial, a indústria está condenada ao desaparecimento. Não existe país desenvolvido sem uma indústria de transformação forte”, enfatiza.
Na linha da desoneração de impostos, a Abimaq vai fazer uma “cruzada” em todos os estados brasileiros para acabar com a cobrança do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre as máquinas. Pastoriza citou que Minas Gerais é o primeiro estado brasileiro a zerar o ICMS para a transação. O secretário de Estado da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, que participou do encontro, afirmou que vai estudar o modelo mineiro. Ele disse ainda estar disposto a conversar com a Abimaq e levar o caso ao governador Beto Richa.