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Foto: José Gomercindo/SECS

Produtores rurais ainda esperam o dólar a R$ 3.

O pacote cambial anunciado na semana passada caiu como uma ducha de água fria nos agricultores brasileiros, que esperavam medidas que fizessem com que o dólar voltasse a valer R$ 3, facilitando as exportações. ?Os produtores imaginavam que as ações trouxessem algum resultado positivo, o que não aconteceu?, diz Ricardo Tomczyk, diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja).

No caso dos produtores de soja, que se preparam para plantar a safra 2006/07, o resultado do pacote pode até mesmo atrapalhar o planejamento do plantio, segundo Tomczyk. Para ele, o ceticismo em relação à viabilidade do negócio soja em Mato Grosso, que já era elevado, ficou ainda maior sem a resposta favorável do câmbio.

Na avaliação de Sérgio Mendes, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o câmbio é considerado o principal desestímulo ao setor de soja. E, depois de 11 anos de crescimento contínuo, o Brasil reduzirá sua produção. ?A previsão inicial da produção brasileira era de 60 milhões de toneladas. Quando se estimou esse número, quem falasse em uma safra de 48 milhões de toneladas seria motivo de riso?, afirma, lembrando que hoje esse número é uma realidade.

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Mendes lembra que a queda na competitividade provocada pelo câmbio é um item adicional aos problemas de exportação de soja do Brasil. Segundo ele, o País já possui uma desvantagem de aproximadamente US$ 30 por tonelada em relação ao frete da Argentina. ?Perdemos mais 30% no câmbio, pois a relação entre o dólar e o peso é maior do que o dólar e o real?, explica.

Os produtores de algodão, um dos poucos setores que conseguem fazer venda direta de seu produto no exterior, também se mostraram frustrados com o pacote. Os cotonicultores esperavam que as medidas fossem provocar um impacto mais imediato na taxa de câmbio. ?As medidas só beneficiam grandes empresas que possuem um forte fluxo comercial. No nosso caso, as importações são muito poucas e os benefícios do pacote não serão muito percebidos, a não ser que isso signifique menos dólares no Brasil e taxa mais elevada?, diz João Carlos Jacobsen, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).

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Para ele, o governo deveria se concentrar em combater diretamente a causa do real valorizado. ?Já mostramos para o governo que precisamos atacar a causa do problema, e não seus efeitos?, diz Jacobsen, referindo-se à elevada taxa de juros brasileira.   

Pacote beneficia principalmente pequenas empresas

Rio (ABr) – As pequenas empresas serão as principais beneficiadas com a série de medidas do governo federal que flexibilizam a legislação fiscal para o comércio exterior e que entraram em vigor ontem com a publicação de uma medida provisória no Diário Oficial da União. A avaliação é do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy.

Segundo ele, a estimativa do Ministério da Fazenda é que as pequenas empresas tenham uma redução da ordem de 3% em seus custos nas operações de comércio exterior, enquanto que para as grandes empresas esta redução deve ficar em torno de 2%.

?Obviamente, varia de caso a caso, mas pode ser uma redução relevante de custos aumentando, portanto, a competitividade das empresas brasileiras tanto nas operações de exportação, quanto nas operações de comércio exterior em geral?, afirmou.

O secretário explicou que os gastos com custos operacionais das pequenas empresas representam um percentual significativo do seu faturamento e, por isso, as novas medidas terão impacto maior para elas.

O benefício vai acontecer, principalmente, porque a medida provisória prevê liberação de procedimentos burocráticos nas operações de compra e venda de moeda estrangeira até o limite de US$ 3 mil.

Appy confirmou que o limite de dólares que as empresas poderão manter no exterior já foi acordado em 30% pelo Banco Central, Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento e será apenas oficializado em reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional. De acordo com ele, a idéia é que a regra seja mantida permanentemente pelo Conselho e que o limite de 30% seja ampliado no futuro.

Compra de moeda sem contrato

São Paulo (AE) – O pacote cambial facilitou a vida do turista brasileiro de duas formas. Uma, já conhecida, é a possibilidade de fazer compras nos free shops, pagando em reais. Outra é a dispensa de contratos de câmbio para compras de moeda estrangeira de até US$ 3.000,00. Atualmente, esse contrato é exigido quando, por exemplo, a pessoa vai ao banco comprar travellers cheques ou moeda estrangeira em espécie para uma viagem ao exterior. Segundo técnicos do Ministério da Fazenda, trata-se de uma medida simplificadora.

As medidas do pacote cambial estão na Medida Provisória 315, publicada ontem no Diário Oficial. Na semana passada, o Ministério da Fazenda já havia antecipado a maioria das medidas, como a utilização de reais nos pagamentos em free shops, mas a eliminação do contrato de câmbio para até US$ 3.000 só foi conhecida ontem com a publicação da MP.