A depreciação do real ao longo do último ano ainda não tem sido suficiente para aumentar a competitividade e estimular a produção do setor têxtil no Brasil, que ao longo de anos reclamou da invasão dos artigos chineses no País. Empresários do setor afirmam que o aumento de custos com mão de obra e matérias-primas dificulta a captura de benefícios pelas empresas, seja na exportação seja na substituição de importados.

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Embora a demanda das redes de varejo para as confecções domésticas esteja crescendo na tentativa de reduzir os custos com os importados mais caros, os fabricantes nacionais ainda veem barreiras.

“O varejista chega querendo um preço equivalente àquele que ele pagava pelo produto asiático no passado e nós não chegamos nesse custo”, diz Matheus Fagundes, vice-presidente da fabricante de lingerie 2Rios.

A indústria nacional tem sentido o impacto de alta de custos de produção, comenta o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone. Um dos fatores que pesou, diz, foi o fim do benefício da desoneração de mão de obra como parte do pacote de ajuste fiscal implementado no ano passado. A alíquota que incide sobre as empresas do setor têxtil passou de 1% para 2,5% da receita.

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No caso da substituição de importações, a capacidade de alguns segmentos em atender o varejo ficou limitada nos últimos anos. O superintendente de políticas industriais e econômicas da Abit, Renato Jardim, afirma que, durante o período em que o real se apreciou e em meio ao crescimento do consumo das famílias no início dos anos 2000, muitas redes varejistas “desmobilizaram” fornecedores nacionais. Assim, a demanda por produtos sazonais como jaquetas, por exemplo, passou a ser suprida apenas pelo mercado externo e os itens perderam espaço na produção brasileira, diz. “Foi desfeita uma relação que agora precisa ser desenvolvida de novo”, comenta.

Ao mesmo tempo, o câmbio que encarece os importados também pesa sobre algumas matérias primas. Fagundes, da 2Rios, afirma que o custo de tecidos sintéticos acabou aumentando diante da instabilidade cambial. “O importador já não sabe onde o câmbio vai parar e embute essa incerteza nos preços”, diz, afirmando que os preços de seus fornecedores subiram acima de 10% em 2015 e devem ser reajustados novamente neste início de ano.

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Cervone destaca ainda que os preços dos tecidos sintéticos no Brasil não têm sido beneficiados pela queda do preço do petróleo no mercado internacional. “Enquanto para o mundo todo os derivados de petróleo estão mais baratos, aqui isso não é verdade, ou seja, esse é mais um fator que fere a nossa competitividade”, diz.

Ainda assim, diz o presidente da Abit, a perspectiva para este ano não é de todo ruim. As grandes redes de varejo têm a expectativa de reduzir pelo menos uma parcela pequena de suas importações, o que já é um efeito relevante para o setor. “Já estamos começando o ano com uma perspectiva positiva que não existia em 2015”, resume.