O ano de 2006 não deixará saudades para um setor específico da economia: o da indústria moveleira. Com a desvalorização do dólar e a baixa renda da população, muitas empresas do segmento viram seu faturamento despencar este ano. A constatação é de diversos empresários que se reuniram ontem em Curitiba durante o seminário ?Oportunidades para as indústrias moveleiras?, realizado pela Federação das Indústrias no Estado do Paraná (Fiep).
?Estamos passando por um período difícil. Este ano foi bastante ruim tanto para quem exporta quanto para quem vende para o mercado interno?, apontou Constantino Bezeruska, coordenador do Conselho Setorial da Indústria Mobiliária da Fiep e presidente do Simov (Sindicato da Indústria de Móveis e Marcenaria no Paraná). Segundo Bezeruska, a desvalorização do dólar acirrou a concorrência de outros países, especialmente da China. Quem não exporta está sofrendo com a economia desaquecida. ?O brasileiro está dando prioridade para outras coisas; ele troca de carro, mas não de móveis?, apontou. O resultado, afirmou Bezeruska, é que muitos empresários trocaram de ramo ou fecharam as portas. Para o presidente do Simov, a situação não deve ser revertida a curto prazo.
Exportação
A indústria de móveis Famossul, em Piên, foi uma das que tiveram uma queda expressiva no faturamento: de US$ 18 milhões em 2005 para cerca de US$ 12,5 milhões este ano – redução de quase 30%, segundo o diretor-presidente Guido Orlando Greipel. O número de funcionários da fábrica caiu na mesma proporção: de quase 900 para pouco mais de 600 em um ano. ?Essa queda se deve única e exclusivamente ao câmbio?, afirmou Greipel.
Produzindo peças de madeira maciça (pinus), a indústria vende exclusivamente ao mercado externo – entre eles a rede Wal-Mart, hoje sua maior cliente. ?No Brasil, o pinus não tem o valor merecido, em conseqüência da diversidade de madeiras. Por isso, optamos por mercados como Europa e Estados Unidos?, explicou. A empresa utiliza matéria-prima própria e mantém uma área de reflorestamento de 3,3 mil hectares.
Para Greipel, se por um lado a valorização do real levou à queda do faturamento e a demissões, por outro a empresa aprendeu a reduzir perdas. ?Esse momento difícil foi bom para rever conceitos. Não podemos esperar o câmbio maior que R$ 2,20; precisamos conviver com isso e ganhar na produtividade, reduzir as perdas no corte da madeira, por exemplo.?
Design
Fabricando móveis para atender as classes média e média alta, o empresário José Carlos Mayer, dono da Móveis Regência, em Curitiba, apontou a queda da renda da população como o principal problema em 2006. ?Faltou dinheiro na mão do consumidor?, apontou o empresário, que estimava crescimento de 20% este ano, índice que não se concretizou. Segundo o empresário, a indústria investiu sobretudo no design em 2006. ?Melhoramos o design, mas mantivemos os preços. Em alguns casos, tivemos até que reduzir?, comentou, referindo-se à concorrência acirrada do setor.
A fábrica concentra 85% das vendas no mercado interno. Os outros 15% vão para Porto Rico. ?Estamos buscando novos mercado. Mesmo com o câmbio atual, ainda vale a pena exportar?, comentou.
Dez anos
Para o diretor de marketing da Central de Excelência Moveleira, Ari Bruno Lorandi, o próprio setor é que não está conseguindo atingir os consumidores. ?Existem dois extremos: os móveis populares, que cabem no orçamento, e os de maior qualidade, que são vendidos nas lojas de decoração. Não existe o produto intermediário para classes B2 e C, que representam 50% do potencial de consumo?, analisou.
A própria cultura brasileira também contribui para uma certa estagnação no setor moveleiro. ?O móvel no Brasil é praticamente para a vida toda. É comum ver peças que pertenciam à avó, por exemplo?, comentou. Outra característica, segundo ele, é o de ?repor peças.? ?Se a sala de jantar é de mogno, costuma-se adicionar ao ambiente uma peça também de mogno e não trocar todo o ambiente.? O resultado, segundo Lorandi, é que o Brasil tinha, em 2005, potencial de consumo de R$ 20 bilhões no setor mobiliário, mas o efetivo ficou em R$ 14,9 bilhões. ?No Brasil, a média para trocar móveis é a cada dez anos, enquanto nos Estados Unidos, entre quatro e cinco anos. Se reduzisse para oito, cerca de R$ 4 bilhões a mais seriam incorporados à economia por ano?, arrematou.