Câmbio demora a afetar o consumidor

Há pouca possibilidade de que o dólar fraco tenha impacto na vida do consumidor neste momento. Efeito positivo nos preços talvez só após o primeiro bimestre do ano. Produtos à venda no País, como eletroeletrônicos, automóveis, bebidas e cosméticos – com influência direta do sobe e desce da moeda estrangeira -, já têm preço definido no varejo até dezembro porque foram comprados com antecedência, baseado na taxa do dólar de meses atrás.

A recente queda no dólar pode ajudar em futuros contratos, daquelas mercadorias que devem chegar ao varejo daqui a dois ou três meses. Mesmo assim, representantes das indústrias questionam até mesmo a possibilidade de efeitos positivos nos preços em 2005.

No caso dos eletrônicos (TVs, DVDs) é preciso comprar componentes importados da Ásia. A produção local é mínima. A indústria que está recebendo as peças nas últimas semanas e irá pagar pelos componentes agora, deve ter algum ganho. Esse ganho pode se refletir naquela mercadoria que o varejo encomendou para vender em janeiro ou fevereiro.

No entanto, a indústria pode não querer repassar esse eventual ganho ao varejo e incorporá-lo à sua margem de lucro.

Essa situação se repete no caso dos celulares, que também importam componentes eletrônicos da Ásia. Toda vez que o dólar perde o seu valor frente ao real, a peça importada fica mais barata em moeda nacional.

O último aumento de preços no segmento, pelas contas da Eletros (Associação Nacional do fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) ocorreu em setembro, quando a alta variou de 7% a 11%.

No caso dos automóveis importados, a situação é ligeiramente diferente. Boa parte dos carros importados tem como origem a Europa. São carros da Alemanha e Itália, em sua maioria. Portanto, cotados em euro. Como o real está desvalorizado diante da moeda européia, ainda paga-se caro no País pela mercadoria.

Em redes de varejo, como Pão de Açúcar e Carrefour, que vendem mercadorias importadas, os preços de venda já estão determinados para até o final do ano. E não devem sofrer altas.

Para janeiro e fevereiro, foi iniciada uma nova rodada de negociações com os importadores. Mas ela não terminou.

Dólar barato faz mínimo chegar a US$ 94,40

O governo Lula está perto de conseguir uma proeza. Se a cotação do dólar continuar caindo, estará concretizada uma promessa de campanha de alguns membros do PT: o salário mínimo valeria US$ 100. Anteontem, mesmo com a alta do dólar de 0,40%, o mínimo já estava em US$ 94,40.

É a primeira vez que o salário mínimo volta a ficar perto de US$ 100 desde a forte desvalorização do real de janeiro de 1999. Nos três últimos anos do primeiro mandato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso manteve o salário mínimo a US$ 108, em média, devido ao câmbio fixo.

Após a liberalização da moeda norte-americana, o mínimo começou a descer a ladeira e chegou a apenas US$ 50 no segundo semestre do último ano do governo de FHC. No segundo mandato do ex-presidente, o salário mínimo médio esteve em US$ 74.

O retorno do mínimo a US$ 100, no entanto, não vai aliviar o bolso dos consumidores. O pacote de cinco quilos do arroz custa, em média, R$ 7,15 nos supermercados. Na desvalorização do real, em 1999, estava a R$ 4,50. Nesse mesmo período, o açúcar subiu 162%, a farinha de trigo, 116%, e a farinha de mandioca – que não tem nada a ver com o dólar -, 224%.

O desempenho do dólar nos últimos anos, no entanto, teve reflexos no bolso dos consumidores. A elevação da moeda norte-americana inibiu as importações de produtos e permitiu aumentos internos, como os do arroz.

A alta do dólar tornou, também, mais baratos os produtos brasileiros no mercado externo, aumentando as exportações. Os preços internos acompanharam os externos. É o caso do óleo de soja, que atualmente custa 90% a mais do que no início da desvalorização do real.

Outro exemplo são as carnes. Mesmo com a queda de renda, o consumidor paga pelo frango o dobro do preço de janeiro de 99.

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