O governo conseguiu adiar mais uma vez a votação da medida provisória de reajuste das aposentadorias acima de um salário mínimo. A votação, no plenário da Câmara, foi remarcada para a próxima semana. Com a base rebelada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta enquadrar os líderes aliados do Senado para prevalecer a proposta de um aumento de 7%, amanhã durante um jantar, inicialmente marcado para discutir a votação dos projetos do marco regulatório do pré-sal.
Os senadores reafirmaram que vão votar o índice de 7,71%, mantendo o impasse na votação. A situação do governo não é nada fácil. Os deputados querem fechar acordo com o Senado em torno de um único índice para evitar desgaste político em ano eleitoral. Por isso, resistem em aprovar os 7% negociados com o presidente Lula. “A situação persiste. Hoje não há entendimento na base do Senado para 7%. Haveria entendimento para 7,7%. Mas não há condição econômica para o 7,7%”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
“Não vamos votar antes de uma decisão consensual entre Câmara e Senado. Ou a base convence o presidente ou o presidente convence os senadores”, afirmou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Apesar do impasse, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), acredita em uma solução favorável ao governo. “Estou confiante em fazer um acordo com o índice de 7%. Está perto de chegar a esse acordo, por isso, a votação ficará para a próxima semana”, procurou justificar.
No Senado, os aliados entendem que aprovar uma correção de 7,71% já é um recuo. Isso porque, o plenário da Casa já aprovou anteriormente a equiparação de reajuste das aposentadorias com o salário mínimo. Nesse caso, o reajuste seria 9,6%.
“Por enquanto, o limite de entendimento político é 7%, mais do que isso teria de haver um processo de convencimento com a equipe econômica”, disse Jucá. Na avaliação do líder, “nós já estamos esticando a corda” ao permitir uma negociação com índice superior a 6,14%, fixado no texto original da medida provisória em vigor desde 1º de janeiro. Ele ressaltou que qualquer correção acima de 7% está sujeita ao veto do presidente.
Nesse cenário de seguidos adiamentos na votação, cresce entre os deputados a suspeita de que o governo pretende deixar a medida provisória perder a validade no dia 1º de junho. Sem a votação da MP, o presidente editaria uma nova medida com um índice novo. Nesse caso, a votação da nova MP ficaria para outubro, depois das eleições.
“O governo está conseguindo o objetivo dele de editar outra MP com uma pequena correção no índice e fugir da pressão dos aposentados e pensionistas. O governo faz um jogo de cena, sujo e sórdido, porque não quer votar”, afirmou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).