Calor prenuncia ano estressante no setor elétrico

O empresário Evandro Caetano de Oliveira, dono da Pousada Califórnia, na pequena Capitólio, em Minas Gerais, não tem do se queixar. A onda de calor que lota praias e piscinas em todo o País é ótima para seus negócios. O calor que começou na virada do ano persistia até ontem. O fim de semana foi de pico. Na tarde de sábado, os termômetros de sua caminhonete marcavam 37 graus quando ele chegava na pousada, de onde avistava uma enorme movimentação de banhistas no lago da barragem de Furnas, chamada de “Mar de Minas”.

“Não chove desde a virada e está um calor danado, mas é melhor assim do que com chuva”, disse Oliveira. “É claro que, por causa disso, o lago está mais baixo do que é comum para essa época ano, mas nada que impeça uma volta de lancha.”

O que para o turismo parece uma dádiva é pura preocupação para o setor elétrico. Tudo que os especialistas em energia desejam é que São Pedro seja generoso sobre Furnas e o Rio Grande, onde a barragem foi construída, e também nos cursos dos rios Paranaíba e São Francisco.

Esse grupo é o mais importante dentro do que se costuma chamar “caixa d’água do Brasil” – conjunto de rios, barragens e hidrelétricas que respondem por cerca de 70% da geração de energia elétrica do País. Na lista, além da usina de Furnas, estão Emborcação, no Sudeste, Três Marias e Sobradinho, na região Nordeste.

Nos últimos dias, o nível de água contido nos reservatórios, capazes de se transformar em energia, ficou em 43% no Sudeste e em quase 35% no Nordeste. É um volume bem melhor do que registrado na virada de 2012 para 2013, quando o nível do Sudeste, por exemplo, bateu nos pífios 29% – volume próximo ao registrado em 2000, ano anterior ao do racionamento.

No entanto, está longe das médias entre 50% e 60% que são registradas nas regiões quando as chuvas são adequadas para o início do verão.

“Em dezembro, choveu na região, e os reservatórios iniciaram 2014 um pouco mais cheios que no ano passado”, diz João Carlos Mello, presidente da consultoria Thymos Energia. “Mas os níveis ainda são baixos e as previsões de chuvas na região não são das melhores para os próximos meses – tudo indica que teremos um 2014 tão estressante na área de energia quanto foi o de 2013.”

Preço em alta.

O maior estresse, segundo Mello, será financeiro. Como há mais de um ano os reservatórios seguem abaixo das séries históricas, parte do abastecimento tem sido permanentemente sustentada por térmicas. O pagamento do combustível dessas térmicas tem um custo alto, que recai sobre o preço final da energia.

“Houve uma melhora no Nordeste, no Norte e no Sul, mas as chuvas foram frustrantes entre Minas e em São Paulo, justamente onde é mais importante que elas caiam”, diz Marcelo Parode, presidente da comercializadora de energia Compass.

Enquanto os turistas aproveitam o sol na região de Furnas, a falta de chuva se traduz em custos adicionais sobre a conta de luz. No mercado à vista, onde os valores são atualizados semanalmente, o preço da energia foi de R$ 249,92 para R$ 284, 27 pelo megawatt-hora, uma alta de 14% entre a primeira e a segunda semana do ano, revertendo a tendência de baixa criada pelas chuvas de dezembro.

“As chuvas de versão são fundamentais para encher os reservatórios para o resto do ano”, diz José Rosenblatt, consultor da PSR. “Teremos de esperar até o fim de março para saber se choverá ou não o suficiente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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