Calor e falta de chuva podem proliferar pragas

Não bastassem todos os contratempos que o produtor rural vem enfrentando – entre eles, o dólar baixo que prejudica as exportações; as commodities agrícolas em queda, além da longa estiagem -, as altas temperaturas registradas nos últimos dias no Paraná podem trazer um problema adicional para a próxima safra de verão: a infestação de pragas na lavoura, em quantidade muito maior do que a habitual.

?A temperatura alta e a falta de chuva favorecem a proliferação de pragas. E se houver plantas hospedeiras (como ervas daninhas), multiplicam-se mais rápido e em maior quantidade?, afirmou o pesquisador da área de entomologia da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Soja, em Londrina, Flávio Moscardi. De acordo com o pesquisador, se por um lado o calor acelera o ciclo dos insetos – como lagartas, percevejos, besouros -, por outro a falta de umidade faz com que inimigos naturais desses insetos (como doenças e fungos) não surjam. ?O resultado é que eles sobrevivem e se multiplicam muito mais rápido.?

De acordo com o pesquisador, o inverso também é verdadeiro. ?Quando o inverno é forte, rigoroso, diminui a população (de pragas), os ciclos demoram mais para ocorrer e as plantas hospedeiras não conseguem sobreviver?, explicou. ?Portanto, quando temos um inverno rigoroso, no verão a população (de insetos) é bem menor.?

Outros fatores

Para o pesquisador da área de entomologia do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), Rodolfo Bianco, o clima quente e seco pode favorecer a infestação de algumas pragas, mas reduzir a de outras. ?Esse período de seca reduz um fator importante, que é o alimento. Assim, as pragas de solo diminuem?, explicou.

Por outro lado, as pragas migratórias – entre elas os lepdopteros, nome técnico das mariposas – aumentam. O resultado são as lagartas do milho, da soja, do algodão. ?Existem outras pragas, mas os lepdopteros chamam a atenção pela velocidade com que atuam. Em quatro ou cinco dias, eles são capazes de destruir boa parte da lavoura?, afirmou. Outras lagartas, como a broca – que fura a parte basal da planta, matando-a -, e a elasmo, que tem a capacidade de furar o colo das plantas como milho, arroz, algodão e soja, também preocupam. Ambas são favorecidas pelo clima seco, lembrou Bianco.

?O potencial dessas pragas é alto. No caso do elasmo e da broca, pode prejudicar de 5% a 10% da lavoura. Já a lagarta do milho, se não for controlada, pode danificar de 20% a 30%. E se associado ao período de seca, pode chegar a 60%?, alertou o pesquisador. O resultado é a baixa produtividade e, conseqüentemente, prejuízo no campo. ?Hoje o produtor rural tem que ganhar na quantidade para ter lucro?, salientou.

De acordo com o pesquisador, o milho safrinha atual, porém, não chegou a ser afetado. Já o trigo vem correndo maior risco. ?No caso do trigo, o prejuízo da seca já é tão intenso, que a praga até ficou em segundo plano.?

Outro problema ocasionado pela pouca umidade é a redução da eficácia dos pulverizadores. ?Em condição climática adversa (estiagem e baixa umidade relativa do ar), o controle das pragas fica mais difícil, principalmente se o agricultor não tiver orientação sobre como aplicar o pulverizador?, explicou o pesquisador, acrescentando que o ideal é aplicá-lo nos períodos do dia em que a temperatura estiver mais amena. ?Senão 30% ou 40% do produto evapora e não chega até a planta.?

Sem previsões

Para Bianco, é difícil prever se a proliferação das pragas vai afetar a safra de verão do Paraná e com que intensidade. ?Tentar associar a seca de agora com o que vai acontecer em setembro ou outubro (quando são semeados milho e soja) não é tarefa fácil. De repente, chove, esfria e muda tudo?, comentou Bianco. ?Mas se a seca se mantiver, é natural que haja dificuldade no controle dessas pragas?, arrematou.

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