Em meio à crise política e institucional enfrentada pelo governo de Cristina Kirchner, as altas temperaturas do verão argentino evidenciam a persistente escassez energética. Cortes no fornecimento de energia elétrica estão sendo aplicados em vários pontos da Argentina e podem ter reflexos na produção industrial. Com a onda de calor registrada no centro e norte do país e na capital federal, desde a semana passada, a demanda por eletricidade aumentou e o sistema demonstrou que a crise energética, iniciada em 2004, não foi superada, como alega o governo.
Ontem, por exemplo, o bairro de Almagro, um dos mais tradicionais da capital portenha, sofreu um corte de energia das 18 horas até as 23 horas. A Província de Córdoba, onde estão instaladas centenas de fábricas, é uma das mais prejudicadas pela falta de eletricidade. Algumas indústrias de alimentos adotaram um turno de trabalho durante a madrugada para não paralisar a produção. Os prefeitos da região turística de Sierras Chicas vão se reunir hoje para estabelecer um plano de racionamento de energia que possa evitar prejuízos durante a temporada.
“A Epec (empresa distribuidora de energia da província) nos pediu uma redução de 25% no consumo de energia para não aplicar cortes”, disse o prefeito de Mendiolaza, Daniel Salibi, à imprensa local. Ele explicou que poderia ser afetado também o sistema elétrico das bombas dos poços de água que ajudam a minimizar a falta de água na região. Córdoba é uma das localidades mais atingidas pela forte estiagem.
Os analistas afirmam que a escassez energética deste verão não é generalizada como em anos anteriores, mas é persistente em alguns casos pontuais no interior e na capital. Com a geração de mais 2.000 megawatts (MW), a estimativa é de que o sistema elétrico atinja um total de 20.000 MW. Essa oferta supera levemente o recorde de demanda de 19.566 MW, registrado em 23 de julho do ano passado, no inverno, quando a temperatura chegou a 5,1 graus Celsius.
Segundo a Companhia Administradora do Mercado Elétrico, a demanda de ontem em Buenos Aires, com uma temperatura de 34 graus, atingiu 18.441 MW. A demanda está muito longe da oferta e não há problemas de disponibilidade de energia, segundo a Fundação para o Desenvolvimento Elétrico (Fundelec).
Mas alguns analistas ponderam que a produção industrial ainda não voltou aos níveis de 2007, quando foram registrados os maiores cortes no fornecimento de energia. Os sinais de retomada da produção indicam que a demanda poderia aumentar e atingir a capacidade do sistema, provocando um colapso. A Edesur, uma das distribuidoras de energia de Buenos Aires, estima que neste verão a demanda vai aumentar 6% em relação a 2009.
Na periferia de Buenos Aires há cortes de energia, assim como nos bairros de maior crescimento demográfico nos últimos anos: Palermo, Caballito e Belgrano. Outros bairros de classe média e alta, onde os aparelhos de ar condicionado são somados às residências, cada vez mais também sofrem com interrupções no fornecimento de energia elétrica. Nos últimos dias, a temperatura tem sido de mais de 34 graus. No interior, além de Córdoba, a escassez energética afeta as províncias de Chaco, Formosa, Corrientes e Santa Fé.