A partir de segunda-feira, 22, a Cetip – empresa que registra operações do mercado financeiro – passa a adotar um ajuste na metodologia de apuração da principal taxa de juro, o Depósito Interbancário (DI). Usado como a grande referência dos poupadores brasileiros, o DI é formado pelos empréstimos realizados diariamente entre os bancos.

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A alteração que será colocada em prática pela Cetip vem após o estranhamento causado no mercado em razão do descolamento entre o DI e a taxa Selic, que remunera os títulos públicos federais, desde o fim do ano passado. As duas sempre estiveram praticamente coladas, mas desde o fim do ano passado mantêm uma distância mais elevada do que a média histórica. Na prática, essa diferença, com o DI mais baixo, prejudica os investidores e pode beneficiar os bancos, que acabam remunerando seus correntistas com uma taxa inferior.

Como informou com exclusividade o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a Cetip usará uma nova fórmula para calcular a taxa DI nos dias em que ocorrerem menos de dez operações de empréstimos interbancários. Nessas ocasiões, será usada a correlação histórica entre o DI e a Selic. Nas demais datas, fica mantida a estrutura atual, de média das transações ponderada pelo volume.

Segundo o gerente executivo de Desenvolvimento de Produtos e Novos Negócios da Cetip, Fabio Zenaro, o objetivo da mudança é fazer uma prevenção para os momentos de baixa representatividade das operações com DI. Atualmente são realizadas perto cerca de 25 transações interbancárias por dia, um número já bem abaixo do registrado no passado.

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De acordo com o executivo, não há registro de nenhuma data em que tenham ocorrido menos de dez operações diárias com o DI. Por isso, ele não acredita que o ajuste da metodologia terá impacto sobre o atual descolamento existente entre a Selic e o DI. “O descolamento é uma condição de mercado e não tem relação com o ajuste que estamos fazendo”, afirmou. “Nosso objetivo é garantir a representatividade da taxa DI.”

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Na avaliação da Cetip, a atual diferença entre as taxas ocorre pela situação de liquidez do mercado. Essa distorção levantou dúvidas e até questionamentos sobre a possibilidade de manipulação do DI. Zenaro descartou essa hipótese ao afirmar que a Cetip tem uma área de monitoramento e que as operações são diariamente reportadas ao Banco Central (BC). Ele também negou que o ajuste na metodologia tenha sido feito por um pedido do Banco Central.

Libor

A discussão sobre manipulação de taxas interbancárias ganhou impulso com os escândalos relacionados à Libor, no ano passado. O órgão regulador do Reino Unido já multou alguns bancos ao comprovar que funcionários alteraram artificialmente a Libor, para obter vantagens.

Porém, Zenaro ressalta que a referência britânica é calculada a partir de coleta de dados feita com as instituições financeiras. No Brasil, o procedimento é diferente e está baseado nas transações interbancárias efetivamente realizadas. “Nosso papel é garantir que sejam observadas as práticas de mercado.”

Na avaliação do executivo, o mercado financeiro deve caminhar para o uso de taxas de juros de prazos mais longos e se afastar da referência do DI. “O DI é herança da taxa overnight, de um período de inflação altíssima”, afirmou.

A desindexação da economia vem sendo discutida nos últimos meses e faz parte da agenda do governo federal. “É uma evolução natural que se pense numa migração do mercado para taxas mais longas”, disse Zenaro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.