O endividamento financeiro das empresas brasileiras cresceu pouco em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) entre 2000 e 2008, mas as fontes em que os recursos foram captados mudaram drasticamente. Esse é o resumo de um trabalho inédito elaborado pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec) do Ibmec, obtido com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo. O estudo tem por base dados de instituições como o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A participação do mercado internacional no endividamento financeiro despencou de 40,2% do total em 2000 para 11% no ano passado.
No mesmo intervalo, o crédito bancário tradicional livre (ou seja, sem direcionamento obrigatório) avançou de 29,6% para 40,3%. O crescimento mais expressivo, no entanto, se deu nos títulos de dívida (como debêntures e notas promissórias), que saíram de 10,2% do total para 24,3% em 2008. “Esse desempenho é explicado, principalmente, pela queda da taxa de juros e pelos fortes avanços institucionais do mercado de capitais”, afirmou o coordenador do Cemec, Carlos Antônio Rocca. “O juro mais baixo, por sua vez, decorre da redução da vulnerabilidade externa do País e da queda da dívida do governo, que abriu espaço para o setor privado.”
A taxa básica de juros (Selic) média foi de 16,19% ao ano em 2000, chegou a 23,03% em 2002 e encerrou o ano passado em 13,66%. Atualmente, está em 9,25% ao ano, menor nível da história do País. Segundo Rocca, o forte recuo do endividamento financeiro no exterior resulta da experiência traumática das companhias brasileiras com a desvalorização do real, em 1999. “Dívida em moeda estrangeira e receita em moeda local cria um problema de descasamento”, observa Rocca. Foi o que ocorreu em 1999, quando a adoção do câmbio flutuante foi seguida de uma disparada das cotações do dólar, o que quebrou várias companhias e ameaçou a sobrevivência de outras tantas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.