Os problemas climáticos dos últimos anos e o risco para o futuro, a incerteza em relação ao tamanho da produção de café nos próximos anos e os desafios da sustentabilidade têm gerado debates sobre a cultura, especialmente em Minas Gerais, principal produtor do país.

continua após a publicidade

Além das preocupações com o que virá pela frente, os atuais preços do café para o consumidor final geram o receio de estagnação no consumo.

LEIA TAMBÉM:

>> Auxílio Brasil e Vale Gás começam a ser pagos em 12 de dezembro; veja o calendário

continua após a publicidade

>> 13º salário: Empresas têm até o dia 30 para pagar; saiba o que fazer se não receber

Resolver todos os dilemas que envolvem a cadeia cafeeira foi tema de discussões na SIC (Semana Internacional do Café), feira que reuniu em Belo Horizonte 20 mil pessoas, das quais 3.000 produtores de todo o país.

continua após a publicidade

Nos três dias do evento, ao menos oito discussões nos vários auditórios do Expominas trataram de temas como geração própria de energia na cafeicultura, gestão de recursos hídricos, ESG, bem-estar no campo, produção orgânica e eficiência no uso de recursos naturais, inclusive com um fórum sobre o tema, dividido em painéis.

O temor apontado pelo mercado é que as severas intempéries climáticas que têm atingido a cultura no Brasil nos últimos anos se tornem permanentes, fazendo com que a oferta de café seja reduzida com o passar dos anos, numa curva inversa à do crescimento populacional.

Se isso ocorrer, o café pode acabar se tornando um artigo de luxo. Em 2022, o setor percebeu que há um limite para o aumento de preços, que hoje está perto de R$ 30 o quilo para o consumidor final, na avaliação de Rodrigo Mattos, analista sênior da consultoria Euromonitor.

Palestrante de um painel com atualizações do mercado global e brasileiro acompanhado pela Folha de S.Paulo, Mattos disse que, além de crises na economia, global ou interna, o café tem o “aditivo” de ser um produto agrícola.

“Ele está também numa crise climática, vivendo essa crise, essa modificação climática muito intensa de estar causando instabilidade muito grande no mercado. A gente teve um pico do preço do café commodity alguns meses atrás, agora ele caiu, mas pode aumentar porque a gente tem geada, granizo ocorrendo em novembro, o mercado está cada vez mais difícil de ter previsão”, disse ele no evento.

Com o agravamento da crise climática entre meados de 2021 e os primeiros meses deste ano, o preço do café aumentou quase 60%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

“Ele começa nesse momento de alta de inflação de cafés a fazer, eu não diria exatamente uma tradeout [troca], apesar de sim ele buscar marcas mais baratas. Nesse contexto ele [consumidor] faz uma diminuição no seu ticket médio, então ele está literalmente consumindo menos café, esse é o pior cenário que a gente poderia ter”, disse o analista da Euromonitor no evento cafeeiro.

E, se houver crise acentuada no café, haverá crise para os produtores de Minas Gerais, maior produtor brasileiro e estado em que os cafeicultores têm enfrentado períodos de quedas na produtividade por conta dos fatores climáticos. E não há, em curto prazo, um futuro promissor.

Segundo dados da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas, a cafeicultura sofreu com seca e geada ao longo do ano passado, quando colheu 21,45 milhões de sacas de café, e projeta um 2023 já com impactos como a identificação de déficit hídrico em algumas regiões produtoras.

Em 2022, apesar dos problemas, houve ligeira alta, com 22,03 milhões de sacas. A cultura é praticada em 451 cidades de Minas.

O aquecimento global é uma ameaça principalmente para o café arábico brasileiro, que se adapta mais facilmente a regiões mais frias, como as existentes em Minas Gerais, e é mais sensível que o canéfora -cultivado em estados como Espírito Santo e Rondônia e mais resistente ao calor.

“Não tem como a gente pensar em crescer, evoluir, com os desafios climáticos que nós temos, e não é de agora […] É uma coisa que realmente tem nos impactado diretamente e, para isso, a gente tem melhoramento genético com genes mais tolerantes a clima e altas temperaturas”, disse Marcos Matos, diretor geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

De acordo com ele, há várias formas para tentar mitigar os impactos climáticos, e elas passam ainda pelas boas práticas na agricultura e na logística do país. “Temos também a logística para discutir, os nossos portos, que não estão condizentes com as tendências globais. A gente tem visto os navios crescendo, chegando a 23 mil, 24 mil contêineres. E quando um navio maior entra em Santos para tudo.”

Lançamentos

Em meio a essas discussões, marcas apresentaram produtos e assinaram acordos ligados ao tema na feira internacional.

A Yara, que atua no setor de nutrição de plantas, assinou com a Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo e sediada em Guaxupé (MG), uma parceria para estudar a viabilidade do fornecimento de fertilizante verde.

O objetivo é descarbonizar a cadeia e oferecer ao consumidor uma escolha mais sustentável, já que o insumo é produzido com baixa emissão de carbono.

Já a Nespresso lançou dois cafés orgânicos, produzidos em 78 fazendas de três regiões mineiras e da Alta Mogiana (SP), após três anos de acompanhamento das lavouras.

“É muito em linha com a nossa estratégia de sustentabilidade de promover uma agricultura mais regenerativa, com menor impacto em relação a pegada de carbono, por exemplo, e o orgânico é um dos primeiros passos que a gente está mostrando para o mundo desse caminho”, disse Cecilia Soares, gerente de sustentabilidade da marca.

Já a Nescafé lançou um café especial (com notas sensoriais de frutas secas, melaço e rapadura) denominado café social, com lucro revertido para o próprio projeto, parceria com duas consultorias e jovens agricultores da Chapada Diamantina (BA).

“Isso não é somente uma obrigação, é uma vontade, porque nós podemos transformar vidas através das coisas que nós fazemos […] Temos isso em várias áreas e uma das melhores formas de fazer isso não é filantropia, é como nós podemos contribuir para melhorar o nosso modelo de negócio e é isso que nós estamos fazendo aqui. É o que nós chamamos de criação de valor compartilhado”, disse Marcelo Melchior, CEO da Nestlé Brasil.

Novatos que bombaram nas eleições 2024

Carro é destruído em festa após eleição na RMC

Vereadores ‘famosos’ que não se reelegeram