Apesar do clima favorável ao avanço da colheita em regiões produtoras de café arábica, o tamanho dos grãos traz temores quanto a uma redução da produtividade das lavouras. Os trabalhos ganharam ritmo nas últimas semanas, mas permanecem atrasados nas principais regiões produtoras. Com mais da metade dos trabalhos no campo concluídos, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), tanto produtores quanto comerciantes já falam em uma menor disponibilidade de grãos maiores, de peneira 17/18, no caso da variedade arábica, e de peneira 13 acima, para o café robusta.

continua após a publicidade

“Tivemos temperaturas muito altas no início do ano, o que fez com que a florada acontecesse em épocas diferentes. Isso mudou o tamanho dos grãos”, afirmou Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), de Minas Gerais. Além disso, a estiagem afetou o desenvolvimento das plantas. Com cafés miúdos, é preciso um maior número de grãos para encher uma saca e isso, por fim, reduz a produtividade das lavouras. “Para a nossa cooperativa, este fato não vai afetar tanto a quantidade produzida, pois nós abrimos muitas áreas novas, que devem compensar a perda (de produtividade) na área tradicional”, explicou Costa.

O cenário se repete no Cerrado de Minas Gerais. Segundo dados da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer), na região de Patrocínio, os grãos também estão menores e é preciso cerca de 20% a 30% mais de café para completar uma saca. Desta forma, a cooperativa estima produção de 25% a 30% menor do que a do ano passado. “Com o veranico de janeiro, os grãos não se formaram totalmente, estão mais leves e com qualidade inferior”, afirmou o trader da Expocaccer Joel de Souza Borges.

Para a exportadora Comexim, no entanto, o que há até o momento é apenas um atraso na oferta de cafés novos, afirmou o trader Mauricio di Cunto. “Realmente a safra atrasou e as peneiras estão em cerca de 10% a 15% menores, mas nossa estimativa ainda é de uma safra de 49,6 milhões de sacas.” A exportadora deve revisar sua projeção no fim do mês de agosto.

continua após a publicidade

No caso da variedade conilon (robusta), cuja colheita já foi concluída, a situação é similar. A Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel) estima quebra em torno de 40% na região noroeste do Estado do Espírito Santo. O gerente-geral da cooperativa, Edmilson Calegari, explica que vários fatores tiveram impacto negativo na produção. “O inverno do ano passado foi rigoroso e tivemos muito frio na época da florada, que não pegou bem. Além disso, em algumas áreas, houve um ataque intenso de cochonilha, inseto que fura o grão e suga seu líquido, causando a queda dos grãos, e isso derrubou muito café”, afirmou. Por fim, em virtude de uma forte estiagem no início deste ano, Calegari explica que os grãos não foram muito bem formados, o café ficou mais miúdo.

Para o produtor, a maior quantidade de grãos miúdos traz, ainda, dificuldade na comercialização do café e uma pressão sobre os preços pagos pelo produto. Segundo Costa, da Cooxupé, até o momento cerca de 20% da produção é de café peneira 17/18. “Normalmente, essa porcentagem é de 27% a 30%”, explicou. “Isso cria um problema sério, porque as empresas, especialmente as internacionais, querem peneira 17/18, que segundo eles dá um paladar melhor, e não vai ter a quantidade que eles querem desse café, eles vão ter que abaixar o nível do que pedem.”

continua após a publicidade

No Cerrado, cerca de 10% da produção é de peneira 17/18 nesta temporada, enquanto a média das outras safras fica entre 25% e 30%. “Isso vai alastrar o diferencial para os cafés mais graúdos, que vão ter um ágio maior”, avaliou o trader Joel de Souza Borges, da Expocaccer.

Di Cunto, da Comexim, confirma essa visão e afirma que a maior proporção de miúdos traz um problema para os compradores que costumam comprar café 17/18. “O cliente vai ter que pagar um prêmio mais elevado para ter esses grãos maiores.” No entanto, ele afirma que isso não tem um impacto importante na comercialização dos grãos. Por outro lado, deve haver redução dos preços pagos pelos grãos miúdos. “Quando não há um porcentual elevado de grãos graúdos e o grão é menor, somos obrigados a pagar um pouco menos pelo café”, explica o trader.

A produção do conilon também apresenta peneiras menores, mas Calegari afirma que a maior porcentagem de grãos miúdos não deve afetar produtores da Cooabriel, que costumam vender o café para compradores do mercado interno. No caso do café conilon, a safra costuma apresentar entre 92% e 93% de grãos de peneira 13 acima, mas, neste ano, apenas 80% da produção alcançou essa classificação. “No mercado interno, as empresas aceitam o café do jeito que está, mas, para exportação, há um problema maior”, conta ele.

Colheita atrasada

Em agosto, o tempo seco permitiu o avanço da colheita do arábica e fez com que os produtores reduzissem o atraso em relação ao ritmo de retirada dos grãos no ano passado. “Por enquanto o clima é bom e não temos problemas, mas haverá preocupação se começar a chover”, contou Costa, da Cooxupé. Segundo ele, a colheita deve se estender até o fim de agosto ou início de setembro, os atrasos aumentam os riscos de chuvas durante a secagem dos grãos. “Se o café tomar chuva no terreiro, perde a qualidade porque há uma fermentação, o grão precisa ter até 12% de umidade para armazenar”.

Segundo dados da cooperativa, a colheita alcançava 53,43% da produção até o último dia 1º, avanço de 11,86 pontos porcentuais em relação à semana anterior. Entretanto, na comparação com o mesmo período do ano passado, quando 71,01% da produção havia sido colhida, os trabalhos desta safra estão bem atrasados. Com esse ritmo, a expectativa é de que os trabalhos no campo se estendam até o fim de setembro.

Na região do cerrado mineiro, a colheita está cerca de 30 dias atrasada. Até o fim da semana passada, os trabalhos alcançavam de 45% a 50% da área. “Tivemos florada em épocas diferentes e isso desigualou o desenvolvimento dos grãos. Em algumas das plantas, têm grãos já secos e alguns ainda verdes”, afirmou Joel de Souza Borges, da Expocaccer. Segundo ele, este foi o principal fator que levou ao atraso. Entretanto, o trader afirma que as entregas estão ocorrendo dentro da normalidade.

Comercialização mais lenta e remuneração menor

Além do atraso na chegada dos cafés da safra nova, Mauricio di Cunto afirma que o mercado físico está lento, sem acordos entre compradores e produtores. “O que tem ajudado são os picos de alta do dólar, quando a gente consegue pagar um preço melhor ao produtor e conseguimos efetivamente comprar alguma coisa.”

Carlos Alberto Paulino da Costa, da Cooxupé, confirma que a comercialização está mais lenta nesta temporada. “Se o preço está bom, o produtor antecipa a venda, mas se o valor está pouco remunerador, ele faz o que puder para não vender”, explica ele. “O preço não está muito baixo, mas também não está remunerando bem, está no limite”, disse Paulino.

No cerrado, a situação é diferente. Segundo Joel de Souza Borges, da Expocaccer, os produtores da região costumam fechar negócios antecipados e agora entregam lotes que já foram vendidos. “O valor pelo qual os acordos foram fechados, de cerca de R$ 400 a saca, cobre o custo, mas não dá aquela rentabilidade que o produtor esperava”, afirmou o trader.

Apesar de os preços não estarem baixos, se comparados aos verificados na mesma época do ano passado, os cafeicultores alertam que os custos de produção aumentaram. “O custo da energia elétrica subiu quase 55% aqui no Estado de Minas Gerais, e é preciso usar muita energia na secagem do café. Os fertilizantes e defensivos subiram quase 20% por causa do dólar”, explicou Paulino.

No Espírito Santo, a Cooabriel estima que o custo, considerando uma produtividade de 60 sacas por hectare, foi de R$ 230 a saca nesta temporada, muito acima dos R$ 160/saca do ano passado. “A renda diminuiu, mas ainda está remunerando o produtor. Isso considerando a hipótese das 60 sacas por hectare, mas a média do Estado foi menor, então o custo por saca é ainda maior”, afirma Calegari. Mesmo com a menor remuneração, quase toda a produção já foi comercializada, com 740 mil sacas vendidas até 30 de julho, de um total de 780 mil sacas. “A maioria dos produtores tinha compromisso e teve que pagar, não tem como segurar os estoques”, disse.