Após longa sabatina, na manhã desta terça-feira, 14, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou as indicações de Otavio Damaso e Tony Volpon para integrar a diretoria do Banco Central. Foram 22 votos a favor e dois contra. Damaso, que é economista e foi indicado à diretoria de Regulação do banco, disse durante a sabatina no CAE que não teria aceito o cargo se o órgão não tivesse autonomia operacional. Se não tivesse convicção de que a presidente Dilma dá autonomia ao BC. Mas evitou, entretanto, expressar sua opinião em relação à necessidade de o governo tornar oficialmente o BC independente, discussão antiga.
“Eu nunca estudei a fundo essa questão, existem na experiência internacional vários modelos diferentes, não é um tema trivial de ser decidido. O Congresso Nacional é o local mais adequado para conduzir esse debate”, explicou. “Pela ótica da condução da política monetária, o que interessa é a autonomia operacional, o que o BC tem observado nos últimos anos”, completou.
Antes de saber se teria seu nome aprovado para o cargo, Damaso fez questão de ressaltar que à frente da diretoria de Regulação do Banco Central teria o compromisso de perseguir o centro da meta de inflação estabelecido pela instituição. “Esse é o objetivo e me comprometo desde já a trabalhar para que isso seja alcançado”, afirmou. Reconheceu, no entanto, que a economia interna passa por um momento em que se veem dois realinhamentos de preços, com a pressão do dólar mais alto e o aumento de preços administrados.
“Hoje não tem condições de o BC travar uma batalha direta com esses dois realinhamentos. O que se faz é combater efeitos de segunda ordem, evitar que isso comprometa toda economia”, disse, para em seguida defender o alinhamento da política monetária e da política fiscal. “São políticas conduzidas de forma independentes, mas que, quando estão alinhadas, é favorável. Quanto mais fiscal, melhor para a política monetária”, concluiu.
Outro assunto que evitou avaliar foi em relação aos juros, alegando não ter condições de comentar a trajetória futura da taxa de juros, porque essa é uma atribuição do Comitê de Política Monetária (Copom) com base no cenário que muda a cada reunião. Disse que o Brasil vive um processo contínuo de redução da taxa de juros desde que o sistema de metas de inflação foi implementado, mas que isso não significa que os ciclos econômicos foram eliminados. “O próprio resquício de inflação alta permanece no Brasil e isso dificulta a convergência mais rápida (das taxas de juros)”, afirmou. Afirmou que o combate à inflação é a principal missão do BC e que isso vai permitir que as taxas de juros retrocedam.
Falou também que o BC poderá fazer um novo diagnóstico sobre os spreads bancários e que algumas medidas ainda não foram totalmente regulamentadas, como a implementação do cadastro positivo, o sistema que “premia” o bom pagador com juros menores com base em seu histórico de pagamento de dívidas e que o governo pretende seja adotado como forma de reduzir o custo dos empréstimos de bancos.
Tony Volpon
Aprovado para a diretoria de Assuntos Internacionais do banco, Tony Volpon diz que uma das razões para as taxas de juros elevadas no Brasil é a falta de poupança. Defende uma agenda ampla, que envolve o Congresso, para elevar a poupança do País e assim reduzir os juros. Disse que tudo que o BC puder fazer para diminuir a inflação será bom para o conjunto do sistema financeiro e para o crescimento sustentável. “Levar a inflação para o centro da meta será essencial para o crescimento sustentável”, disse.
Volpon afirmou que o realinhamento de preços relativos explicam por que a inflação não tem estado no centro da meta. Defendeu ainda que os juros são o instrumento mais eficaz para levar a inflação para a meta no lugar de ferramentas alternativas, como os depósitos compulsórios. “Os juros agem por vários canais da economia. Os depósitos atingem só alguns”, ponderou.
Em relação ao câmbio, Volpon afirmou que há uma política de diversificação de aplicação das reservas e que elas não são aplicadas apenas em dólar. Ele observou que, para o BC, como política, a taxa de cambio é flutuante. “E isso é correto”, disse. Que as intervenções no mercado (via programas de venda da moeda via swap) são para corrigir eventuais momentos de volatilidade e para prover instrumentos de hedge.
“Se olharmos os determinantes históricos da nossa taxa de câmbio, um deles é o termo de troca. Isso foi um dos fatores que levaram à desvalorização nos últimos tempos. Se isso não mudar, é muito provável que esse patamar que atingimos será o que veremos nos próximos períodos”, afirmou. “Tendo passado 20 anos no sistema financeiro fazendo previsões, posso dizer que é uma das coisas que os economistas não conseguem prever, inclusive eu mesmo”, afirmou.
Ele negou que a instituição tenha falhado no combate a inflação. Admitiu, porém, que o País teve dificuldades econômicas. “No entanto, tenho forte convicção de que apresentam-se agora as condições para levar a inflação para o centro da meta”. Lembrado de que, no passado, fez críticas à política econômica, Volpon reconheceu ter criticado, mas que, como analista, era sua função à época. E que agora, no entanto, apoia a atual política monetária e a postura do BC. “Eu apoio o que está sendo feito agora e quero trabalhar muito para as taxas serem as menores possíveis tendo a inflação na meta”, afirmou.
O nome de Dâmaso e de Volpon serão encaminhados ainda hoje para votação no plenário.