Ricardo Saud, diretor de relações institucionais do grupo J&F, relata na delação premiada a tomada da fábrica de lácteos da BRF em Piraí (RJ) quase com orgulho. Frases como “fomos muito rápidos”, “nem nós acreditávamos” ou “ganhar uma fábrica era a melhor coisa” aparecem espalhadas pelo depoimento, no qual ele relata como convenceram o então governador Sérgio Cabral a “enfrentar” a BRF.

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A manobra apresentada pela J&F seria possível porque a concorrente havia recebido um terreno e benefícios fiscais para erguer a fábrica. Como demorava para colocá-la em operação, porém, o Estado do Rio de Janeiro poderia tomá-la de volta. E passá-la para a J&F e sua controlada, a Vigor, com os mesmos incentivos fiscais. Em troca, o ex-governador e o PMDB receberiam R$ 27,5 milhões, usados na campanha que elegeu Luiz Fernando Pezão, em 2014.

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Pois os artífices do golpe de mestre podem, na verdade, não ter sido tão espertos. Três pessoas que acompanham de perto as decisões estratégicas da BRF e pedem para não serem identificadas afirmaram que o grupo já havia decidido diminuir sua presença na área de lácteos e desistido da fábrica fluminense, e o governador sabia. Tanto que o valor investido na unidade foi lançado como perda e a BRF não brigou para reavê-la, colocando-a para funcionar ou indo à Justiça.

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“O Sérgio Cabral sabia que a fábrica não entraria em operação e capitalizou em cima da J&F”, diz uma pessoa da BRF que acompanhava as negociações. Outra dá risada: “O Saud fez um mau negócio: a fábrica poderia ter saído mais barata.”

Nesse mesmo depoimento, é possível perceber claramente o comportamento que os economistas criticam no empresariado, de buscar acesso a privilégios, em vez da competição. Saud relata que, quando começaram a prospectar novos negócios com Cabral, “de cara pedimos incentivos para o leite”.

O pleito não tinha qualquer ilegalidade. Mas, como o governador tinha interesse em se aproximar da empresa, autorizou que o Estado abrisse mão da receita obtida por meio de impostos. “A burocracia cria esse capitalismo de compadrio politicamente orientado”, diz Celso Toledo, da consultoria LCA. “Nele, só dá certo os amigos de quem cria dificuldade para vender facilidades.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.