O Banco Central da Alemanha (Bundesbank) se posicionou contra o pacote de estímulo do Banco Central Europeu (BCE) anunciado na quinta-feira. De acordo com pessoas ligadas ao assunto, a instituição alemã teme um “ciclo vicioso” de grandes expectativas do mercado, seguidas por frustração.
O BCE anunciou nesta quinta-feira um pacote maior que o esperado de cortes de taxas de juros, mais compras de bônus e empréstimos baratos, reforçando seus estímulos pela segunda vez em três meses, em um esforço para impulsionar a inflação e a frágil economia da zona do euro. Ainda que os mercados de ações e bônus tenham inicialmente avançado, eles mudaram de rumo ao longo da sessão, após o presidente do BCE, Mario Draghi, dizer em entrevista coletiva que as taxas de juros provavelmente não serão cortadas novamente.
O presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, estava particularmente contra a decisão de acelerar as compras de bônus para 80 bilhões de euros ao mês, dos atuais 60 bilhões de euros, segundo pessoas familiarizadas com o tema. Weidmann não tinha direito a voto na decisão desta quinta-feira, por causa do sistema de rotação dos votos do BCE. Ele desejava debater mais ferramentas tradicionais do banco central, como a taxa de juros e os empréstimos de longo prazo, mas pode ter preferido não fazer nada, segundo as fontes ouvidas.
O BC alemão tem há tempos se posicionado contra as compras de bônus de governos, que ele vê como uma ferramenta política arriscada, que pode resultar em bolhas de ativos e reduzir a pressão sobre governos muito endividados para que eles realizem reformas.
Alguns membros do conselho de 25 diretores do BCE temem que, após anos de políticas de relaxamento monetário, novos estímulos se mostrem cada vez menos eficientes, dizem as fontes. O BC alemão teme que as rodadas seguidas de estímulo possam gerar um “círculo vicioso de expectativas e desapontamento”, disse uma fonte.
Dezenove dos 25 membros do BCE votaram a favor dos estímulos na quinta-feira, segundo as fontes ouvidas. Dois membros do conselho votaram contra – o presidente do Banco Central da Holanda, Klaas Knot, e Sabine Lautenschlaeger -, enquanto quatro membros não puderam votar nesta quinta-feira, pelo sistema rotativo.
Draghi disse nesta quinta-feira que os estímulos foram apoiados pela maioria absoluta dos dirigentes do conselho do BCE. Segundo ele, a discussão foi bastante “positiva, muito construtiva”.
Em texto publicado nesta sexta-feira no site do BCE, o vice-presidente Vítor Constâncio rebateu os temores crescentes sobre a eficácia dos estímulos do banco central, argumentando que era “perigoso” denegrir essa iniciativa. “O que é racional e essencial é examinar em primeiro lugar o que teria acontecido se a política não tivesse sido adotada”, argumentou Constâncio. A equipe do BCE estima que a zona do euro “teria estado em permanente deflação desde o ano passado” sem essa política de estímulo, disse ele.
O BCE cortou suas três taxas de juros na quinta-feira, mas Draghi sinalizou que cortes adicionais das taxas estavam fora de cogitação, ao menos por ora. “Naturalmente, todas as políticas têm limites”, escreveu Constâncio. “No caso de instrumentos que estamos agora utilizando, isso é particularmente verdade em relação às taxas de juros negativas em nossa taxa de depósito.”
O presidente do BC da Letônia, Ilmars Rimsevics, disse nesta sexta-feira que duvidava que o mais recente estímulo do BCE pudesse ajudar a voltar a impulsionar o bloco de 19 países. Ele votou a favor do pacote ontem, segundo as fontes ouvidas. Atualmente, não há um remédio doce à disposição, segundo a autoridade da Letônia. “O que o Banco Central Europeu (BCE) fez – apenas imprimir dinheiro – cria um montante de dinheiro em circulação, mas não consegue tirar as economias europeias das crises, da estagnação”, avaliou Rimsevics. Fonte: Dow Jones Newswires.