Davos (Suíça) – Falar em economia nos dias de hoje e não tocar na China é como tratar de futebol sem citar o Real Madrid. Comparações entre negócios e futebol à parte, o dragão vermelho vive um momento de exuberância e desenvolvimento. Por isso, esteve praticamente em todas as rodas de conversa envolvendo empresários, políticos e representantes de organizações não-governamentais nos cinco dias do Fórum Econômico Mundial. Esse chamariz desviou a atenção da América Latina que, no ano passado, em função da presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve espaço garantido.
Essa mudança de foco não é à toa. Além da ausência dos principais chefes de governo das nações latino-americanas, a China, em 2004, apresentou crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 8,5%. E, nunca é demais lembrar, abriga população que supera 1 bilhão de pessoas.
As grandes corporações, que ainda não se instalaram por lá, tentam cavar trincheira. Entre os principais fatores apontados pelo “boom” estão o custo e a qualidade da mão-de-obra, bem como a proximidade com mercado consumidor gigantesco, além do chinês, é claro, o de todo o sudeste asiático. A corrente de pensamento vigente entre os investidores é: “Se não estou lá, já estou em desvantagem”.
De acordo com pesquisa elaborada por uma consultoria espanhola, é possível contratar um profissional chinês com as mesmas características produtivas de um europeu por um terço do valor. Os países europeus, diante desse cenário, estão cada vez mais consternados com a situação. Temem que grandes indústrias continuem transferindo a produção para lá e percam novos investimentos em 2004.
Latinos em baixa
A América Latina foi ironicamente apelidada, em Davos, de “Atlântida Perdida”, ou seja, a terra de oportunidades que se sabe que existe, mas não é encontrada. Razão disso é que em 2003, com exceção da Argentina – que cresceu 4% – a economia regional praticamente puxou o freio. O Brasil, para se ter idéia, segundo as mais recentes projeções, deve ter um incremento no PIB inferior a 1%.
No entanto, a China não está cercada somente de bonança. Os mesmos empresários que enaltecem a economia chinesa hoje estão preocupados com o ritmo de crescimento dos próximos anos. “Será que ela têm fôlego para aumentar a produção de riquezas de acordo com as expectativas? Será que os investimentos não são demasiados?” Eles temem, também, o excesso de poder de Beijing na condução política e econômica do país. O receio é de que intervenções desnecessárias do governo, do ponto de vista dos empresários, acabem tornando o sonho vermelho em prejuízos e pesadelos reais.
Caberá à América Latina, portanto, ao longo dos próximos meses, convencer os investidores de que pode competir com chineses e indianos e tornar-se, novamente, “assunto em Davos”. Pelas projeções de organismos internacionais há chances. Isso porque apontam crescimento em torno de 4%, ajudado por redução nas taxas de juros, aumento das exportações e do consumo interno. (Murilo Ramos – Enviado especial da Agência Brasil)
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