Genebra (AE) – A briga aberta pelos argentinos contra o Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) por causa de uma sobretaxa de importação de uma resina é, também, uma disputa entre uma empresa americana, a Eastman, e a européia M&G pelo controle do mercado sul-americano. Buenos Aires abriu consultas contra o Itamaraty na entidade máxima do comércio alegando que a barreira imposta pelo País na importação da resina PET, usada na embalagem de todos os refrigerantes e água, seria ilegal. Brasília estima que os argentinos, por meio da Eastman, estavam exportando o produto a um preço inferior ao que praticavam em seu próprio mercado, o que seria caracterizado como dumping e uma estratégia para ganhar mercado.
Segundo assessores europeus da M&G, empresa italiana que está no Brasil e que se beneficia da existência da barreira contra a Argentina, a companhia está prestes a inaugurar a maior usina de produção de PET do mundo. A fábrica, que está em construção há três anos, será na cidade de Ipojuca, em Pernambuco, e promete abastecer o mercado brasileiro e ainda gerar um volume suficiente para exportar. A companhia também negociou acordos com a Petrobras.
Hoje, a M&G já controla cerca de 60% do mercado brasileiro, depois de ter adquirido a totalidade das ações da Rhodia-ster em 2002. Mas garante que a decisão de iniciar obras para a construção da maior fábrica do mundo em Pernambuco não levou em conta a proteção oferecida pela sobretaxa imposta pelo governo brasileiro sobre sua concorrente americana. ?O projeto de construir a fábrica é de 2004 e a sobretaxa foi aplicada em 2005?, explicou um representante da companhia na Europa. Mas fontes do Ministério do Desenvolvimento apontam que as primeiras movimentações contra a empresa na Argentina são anteriores a 2005.
A M&G foi quem levantou a queixa ao governo brasileiro e pediu medidas contra as importações vindas da Argentina. Já a Eastman, empresa na Argentina que quer o fim da barreira imposta pelo Brasil, é de capital americano e atualmente ocupa a posição de líder no mercado mundial. Mas com a barreira imposta pelo Brasil no início de 2005, a Eastman foi excluída do mercado nacional, considerado como um dos que mais promissores para o setor. Na Argentina, a Eastman atua por meio de sua subsidiária, a Voridian. A Eastman, além de ter seu acesso dificultado para entrar no Brasil, poderá ver sua liderança mundial ser reduzida quando a M&G colocar em pleno funcionamento sua fábrica em Pernambuco.
A M&G afirma ser já a líder na América do Sul e ampliará seu controle com a nova unidade. Segundo os executivos da empresa italiana na Europa, a nova fábrica consolidará a M&G como a segunda maior do mundo, superada apenas pela Eastman. Hoje, a maior planta do mundo dedicada à produção da resina está em Altamira, no México, e é de propriedade da própria M&G. Além de fábricas no México e Itália, a companhia conta com investimentos nos Estados Unidos e Reino Unido. No Brasil, a M&G conta com quatro fábricas.
Brasil aceita discutir
O Brasil aceitou o pedido de consulta da Argentina na Organização Mundial de Comércio (OMC) para tratar da cobrança da sobretaxa imposta pelo governo brasileiro à importação de resina PET produzida no país vizinho.
A conversa entre os dois governos deve ocorrer dentro de 60 dias, no Brasil, segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores. O pedido do governo argentino foi protocolado na OMC ao final de dezembro de 2006.