Embora excluída da pauta formal do encontro de cúpula do Foro Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), que se dará no próximo dia 15, em Brasília, a criação de uma moeda de referência alternativa ao dólar para as reservas dos quatro países tenderá a ser discutida nos encontros privados entre os líderes. Segundo o subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty, embaixador Roberto Jaguaribe, a questão é de interesse de todos os membros do grupo, mas há especial preocupação em tratar do tema de forma equilibrada e cautelosa, sem açodamento. “Jogadas que gerem marolas não são de interesse de ninguém”, afirmou Jaguaribe.
Segundo o diplomata, as discussões mais profundas sobre o tema devem se dar entre autoridades dos bancos centrais e ministérios da área econômica dos quatro países em paralelo à reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial no final deste mês, em Washington.
Assim como a criação da moeda de referência, outro tema será tratado de forma secundária na reunião de cúpula do grupo – a adoção de moedas locais no comércio entre os quatro países. O Banco Central deverá promover um seminário para técnicos indianos, russos e chineses para detalhar a experiência desse modelo nas trocas entre Brasil e Argentina. Entretanto, Jaguaribe ressaltou que não há ainda negociação em curso com tal objetivo nos Brics. “O Bric não quer ser um grupo normativo, como o G-7 (as maiores economias industrializadas). Não temos pretensão nem capacidade para isso”, afirmou.
Bancos
Bancos comerciais brasileiros, indianos, russos e chineses vão analisar na próxima semana, em São Paulo, mecanismos para permitir uma participação mais ativa e direta no financiamento do comércio entre os quatro países. As discussões farão parte dos eventos da Cúpula dos Brics. Segundo Jaguaribe, uma das iniciativas em estudo é a possibilidade de concessão de cartas de crédito para as trocas comerciais entre esses países, sem a necessidade de intermediação por instituições americanas e europeias. Em paralelo à cúpula também serão realizados encontros entre bancos de fomento dos quatro países, entre cooperativas e think-tanks.
China
O embaixador afirmou ainda que o reconhecimento efetivo da China como economia de mercado é tópico que continua em consulta no âmbito bilateral. O tema deverá ser tratado no encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao, da China, na próxima semana. O líder chinês participará em Brasília da 2ª Cúpula dos Brics e fará sua segunda visita oficial ao País. “Esse tema é sempre objeto de consulta. A China quer ultimar esse processo”, afirmou Jaguaribe. “A dimensão política (do reconhecimento) já se deu em 2004. A dimensão prática depende de etapas em curso na Câmara de Comércio Exterior (Camex), que interessam ao governo brasileiro que sejam concluídas.”
O reconhecimento da China como economia de mercado foi a mais polêmica medida adotada durante a primeira visita de Hu Jintao ao Brasil, por sua capacidade de restringir a aplicação de medidas de defesa comercial contra produtos chineses. A sua efetividade foi condicionada à realização de investimentos chineses no País, que ainda estão em suspenso. Segundo Jaguaribe, esse reconhecimento será automático e inevitável em 2016, quando todos os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) terão de adotar essa posição.