Os países membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e agora a África do Sul) se reuniram na tarde de hoje (18) em Paris para buscarem posições a serem apresentadas na reunião do G20, que começa hoje à noite na capital francesa. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o grupo se colocará contra o estabelecimento de limites para o acúmulo de reservas internacionais. Ele acredita que, enquanto não houver um sistema financeiro seguro, os países emergentes terão de continuar acumulando reservas. “Se houver uma crise, quem irá nos socorrer?”, questionou.
Os países também se opõem à imposição de regras e limites para o controle de fluxos de capital, como está sendo discutido por membros do G20. Na última reunião de cúpula, em novembro do ano passado, o grupo havia dado sinal verdade para as medidas dos emergentes que estavam sofrendo forte entrada de recursos.
Para Mantega, cada país deve adotar as medidas que quiser. “O Brasil não abre mão de fazer o que achar necessário”, afirmou. Conforme o ministro, a expectativa é de que o fluxo de capital para os emergentes continue crescendo neste ano, depois do salto de 50% registrado em 2010.
Brasil, Índia, Rússia e China decidiram incluir a África do Sul ao Bric. O país, que representa a maior economia da África, já participou da reunião de hoje. “O grupo fica reforçado e mais representativo”, disse Mantega.
Commodities
Apesar de ser contra o controle dos preços das commodities, outro assunto que será debatido na reunião do G20, o Brasil, segundo Mantega, é a favor do aumento da transparência no mercado de derivativos de commodities para conter a especulação com os alimentos.
O tema é um dos mais polêmicos entre os membros do grupo, já que a França levantou a preocupação com a disparada nos preços no cenário internacional. Mantega disse que é contra a administração de um estoque internacional de alimentos, algo considerado de difícil implantação. “Quem iria administrar isso em escala internacional?”, questionou. Entretanto, se mostrou favorável em tornar os derivativos mais claros, fazendo operações registradas em bolsas, com câmaras de compensação, e não em balcão. Segundo ele, o excesso de capital em circulação, fruto da política monetária frouxa dos Estados Unidos, estimula a especulação com as commodities.
O ministro afirmou que a solução para conter os preços dos alimentos é o aumento da oferta e o fim dos subsídios agrícolas impostos pelos países desenvolvidos.
Câmbio
Sobre a questão cambial, Mantega reiterou que o Brasil possui uma visão diferente dos Estados Unidos em relação à China, acusada pelos americanos de manter sua moeda sobrevalorizada. Mantega acredita que os países avançados também têm responsabilidade pelos desequilíbrios globais. “Não existe um único responsável”, disse em entrevista após a reunião do Brics. Conforme o ministro, diversos países possuem o câmbio administrado e o ideal seria que abandonassem ou limitassem a prática. Ele reiterou que a política monetária frouxa dos Estados Unidos provoca desequilíbrios.
Para Mantega, se o Brasil não tivesse adotado medidas para conter o fluxo de recursos externos, o dólar estaria abaixo de R$ 1,50. Segundo ele, a volatilidade cambial foi reduzida no País. Mantega acredita que o fluxo de recursos continuará subindo, mas avalia que não necessariamente o Brasil terá de adotar novas medidas cambiais para conter o fluxo de capital estrangeiro. “Temos certa estabilidade”, afirmou. Ele reiterou que seguirá observando os movimentos do câmbio e, se houver novo fluxo forte de dinheiro rumo ao Brasil, pode voltar a agir.
Para o ministro brasileiro, o real deveria ser incluído na cesta de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI) – os direitos especiais de saque (SDRs, na sigla em inglês). Ele acredita que o mundo precisa transitar para um modelo multipolar de moedas, como forma de criar alternativas ao dólar.
Mantega argumenta que os Estados Unidos perderam a posição de mais representativos para o comércio internacional, ultrapassados pela China e a Alemanha. Nesse sentido, uma solução seria dar mais importância e conversibilidade aos SDRs, hoje compostos por quatro moedas. Para isso, o FMI precisaria se transformar num banco global emissor.
O real deveria ter lugar na cesta do FMI porque está ganhando representatividade e supera as transações com o iene no mercado de derivativos, alega Mantega. Ele também defende a entrada do yuan nos SDRs. “Isso também tiraria um peso das costas dos EUA, pois atrapalha na hora de fazer política monetária”.
Após o encontro, que também contou com a presença do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, Mantega seguiu para o Palácio do Eliseu, para recepção pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Amanhã, os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 passam o dia reunidos e divulgam comunicado à tarde.