O presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Mark Carney, afirmou nesta quinta-feira que um Brexit sem acordo seria um “choque” que aumentaria as chances de que o Reino Unido registre resultados de Produto Interno Bruto (PIB) trimestrais negativos, ou seja, em contração.
Mais cedo, o BC manteve a taxa básica de juros em 0,75% ao ano, mas cortou sua projeção de crescimento do PIB do Reino Unido neste ano, de 1,7% para 1,2%, citando o impacto da demanda mais fraca nas exportações britânicas e as incertezas do processo para a retirada do país da União Europeia nos investimentos e nos gastos com consumo.
Para 2020, o BoE reduziu sua previsão de alta do PIB de 1,7% para 1,5%. Em 2021, a expectativa é que o crescimento acelere para 1,9%. “A economia atual desacelerou por causa do mundo, da Europa e das incertezas do Brexit”, resumiu Mark Carney na entrevista coletiva após a decisão de política monetária. “As famílias e as empresas estão percebendo cada vez mais essas incertezas.”
O canadense reconheceu que a probabilidade de uma separação abrupta, sem acordo, aumentou, lembrando que faltam apenas sete semanas para a data em que, a princípio, o Brexit deve ser consumado, de 29 de março.
Carney negou, contudo, que o BoE esteja “de mãos atadas” (veja reportagem publicada no Broadcast, às 7h36). “Não é que as nossas mãos estejam atadas. É que a reação a um Brexit sem acordo não seria automática”, explicou, acrescentando que os dirigentes do banco central têm “uma noção muito boa” dos efeitos de uma saída brusca, mas não há como prever os “detalhes”.
Metade das empresas ouvidas pelo Banco da Inglaterra em seus levantamentos dizem não estar preparadas para um Brexit sem acordo, segundo o canadense.
Por outro lado, ele declarou que, se a retirada britânica do bloco europeu se der com algum tipo de acordo e uma transição “suave” – cenário que segue sendo visto como o mais provável pelo BoE – a economia do Reino Unido vai voltar a acelerar. “O investimento cresceria”, pontuou.
Ainda assim, Carney mostrou ponderação. “Se houver um acordo de retirada, isso já vale alguma coisa, vale muito, mas a incerteza persiste até que empresas tenham clareza sobre a relação futura”, disse, referindo-se às tratativas que transcorreriam durante o período de transição mesmo que Londres e Bruxelas acertem um pacto para regular a parte inicial da separação.
Questionado sobre se não seria adequado o BoE alterar a atual orientação para os juros, que usa os termos “graduais e limitadas” para descrever o ritmo das elevações, de forma a preparar os mercados para um cenário sem nenhuma alta da taxa em 2019, o banqueiro central foi claro: “Não.”