Marés: se a demanda continuar, teremos problemas. |
O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que capta quase 100% dos recursos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estuda a possibilidade de buscar recursos em outras fontes, entre elas a China, a Caixa Econômica Federal e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A informação é do vice-presidente da instituição, Carlos Marés de Souza, que participou ontem da apresentação do desempenho da entidade no primeiro semestre, em Curitiba. Segundo Marés, o BRDE pode captar recursos de até R$ 2,5 bilhões junto ao BNDES – o valor é estipulado conforme o patrimônio líquido da instituição, que é de R$ 500 milhões. Atualmente, os recursos estão em R$ 2,1 bilhões.
“Se o ritmo de crescimento (da demanda) continuar, pode haver problemas logo”, alertou o vice-presidente. Conforme dados divulgados ontem, o BRDE realizou contratações no valor de R$ 222,4 milhões no primeiro semestre do ano passado. Este ano, no mesmo período, passou para R$ 381,8 milhões, ou seja, crescimento real (descontada a inflação) de 57%. Já o número de operações passou de 4.092 para 5.361 – incremento de 31%.
Segundo Marés, além de garantir o financiamento para quem precisa, a busca de recursos em outras fontes pretende contemplar setores que hoje não são atendidos pelo BNDES. É o caso da aquisição de máquinas importadas, que hoje não pode ser feita mediante financiamento do BNDES, por se tratar de um banco de fomento. “A idéia é ter o dinheiro livre para ser aplicado em qualquer setor”, explicou Marés.
Auto-sustentável
O vice-presidente do BRDE anunciou ainda que, pela primeira vez desde que foi fundada (dezembro de 1961), a instituição consegue equilibrar o balanço financeiro. “Passamos a ser um banco auto-sustentável”, afirmou. Na prática, isso significa que o banco vive de seus próprios recursos e que não depende da rentabilidade financeira para pagar os custos, entre eles o administrativo. “O BRDE ganha um percentual sobre cada empréstimo. Isso significa que mesmo que a taxa Selic despenque não irá afetar os rendimentos do banco.” No primeiro semestre, o BRDE atingiu lucro de R$ 47 milhões. Para Marés, o bom desempenho da instituição se deve sobretudo ao aumento de financiamentos e queda da inadimplência. “As pessoas acreditavam que o banco fosse fechar as portas e por isso não se importavam em ser inadimplentes. Mas desde 1993, quando o banco retomou as atividades, ele vem ganhando mais credibilidade.” Segundo ele, maus pagadores têm voltado ao banco para tentar negociar as dívidas.
No primeiro semestre, o BRDE ficou na 12.ª posição entre os agentes financeiros do BNDES no País, desembolsando R$ 282,6 milhões. A primeira posição ficou com o Banco do Brasil, com desembolso de R$ 1,4 bilhão. Ainda no primeiro semestre, o número de clientes era de 5.215, sendo a maioria deles (2.688) pequenos produtores. Por outro lado, foram as grandes empresas quem mais fizeram financiamentos em termos de valor médio: cerca de R$ 5,2 milhões contra R$ 10 mil do pequeno produtor. “Um fato interessante é que entre as cinco maiores operações realizadas no Paraná no primeiro semestre, quatro foram de cooperativas. E emprestar para cooperativa significa emprestar para cooperados e não exatamente empresas”, salientou.
No período, cerca de 46% do valor contratado teve como destino as grandes empresas, 21% foi para micros e pequenos empreendimentos (rurais e urbanos), 15% para médias empresas e 18% para demais produtores rurais.