O jornal britânico “Financial Times” não esconde ter algumas reservas com a eleição do embaixador brasileiro Roberto Azevêdo para a direção da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em editorial publicado nesta quinta-feira, 9, o jornal diz que, à primeira vista, ter um brasileiro no comando da instituição “não parece promissor” porque o Brasil tem adotado medidas no caminho do protecionismo e que, diante disso, o diplomata precisa provar que é “dono de si”.

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Com o título “Uma oportuna chance de reavivar o comércio mundial”, o editorial reconhece que a eleição de Azevêdo é “indubitavelmente” resultado de uma ação diplomática mais forte do Brasil. “Sob a presidência de Dilma Rousseff, o gigante latino-americano continua a tentar construir uma reputação como um mediador-chefe do mundo, colocando seus candidatos no topo de organismos multilaterais. A escolha do senhor Azevêdo segue a nomeação de José Graziano da Silva como diretor-geral da Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU em 2010”, diz o texto.

Os elogios, porém, terminam aí. “À primeira vista, a nomeação de um brasileiro no comando da OMC não parece promissora. O Brasil não é um campeão de livre comércio. O Mercosul, o pacto regional que o Brasil ajudou a criar, tem falhado. Em 2011, o Brasil submeteu à OMC a retaliação contra os países envolvidos em políticas monetárias afrouxadas – um passo protecionista”, cita o texto.

Diante dessa estratégia brasileira, o editorial diz que o diplomata precisa mostrar que defenderá ideias próprias – e não apenas as brasileiras. “O senhor Azevêdo precisa provar que é dono de si. Sua experiência como diplomata e negociador na OMC pode ser útil para reviver as negociações multilaterais. O forte apoio que obteve entre os representantes dos países em desenvolvimento o faz adequado para diminuir a divisão norte-sul que tem impedido os acordos multilaterais”, diz o texto.

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“A questão mais difícil é saber se a eleição de Azevêdo pode reviver as glórias de uma organização que está lutando para manter sua influência”, cita o editorial, ao argumentar que “divergências profundas entre nações importantes fizeram com que o grupo sediado em Genebra tenha sido incapaz de avançar com acordos multilaterais”. “A Rodada Doha, que começou em 2001, está morta”, diz o editorial, citando que a OMC parece ausente, já que o comércio global cresceu apenas 2% no ano passado, o segundo pior ano desde 1981 e menos que o crescimento do PIB mundial.

“O diplomata brasileiro precisa ser pragmático. É melhor começar com ações menos ambiciosas, tais como as medidas de facilitação do comércio, que são mais fáceis de terem apoio”, diz o text,o que lembra que o primeiro grande teste de Azevêdo será na reunião da OMC em Bali, programada para dezembro.

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