Brasília (AG) – O Brasil está entre os sete países mais empreendedores do mundo, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Sebrae Nacional. A taxa de empreendedorismo do Brasil, que estava em 12,9% em 2003, subiu para 13,5% em 2004. Isso significa que há um empreendedor para cada sete trabalhadores brasileiros com idades entre 18 e 64 anos. Em termos absolutos, são 15,3 milhões de empreendedores. A média brasileira fica acima da mundial, que é de um empreendedor para cada dez trabalhadores.
A pesquisa, porém, mostra muitos pontos preocupantes, como o fato de 30% dos empreendedores só terem quatro anos de estudo e metade dos empreendimentos entre 2001 e 2004 terem sido iniciados por necessidade, e não por oportunidade. Ou seja, as pessoas abrem negócio próprio no Brasil apenas para sobreviver.
Outro dado preocupante, segundo o Sebrae, é que os empreendedores brasileiros não estão preocupados em gerar empregos ou exportar seus produtos. Segundo a pesquisa, a proporção de empreendedores que não esperam gerar mais do que dois empregos nos próximos cinco anos é de 61%, enquanto 90% não vislumbram nenhuma perspectiva de exportação.
O diretor-presidente do Sebrae Nacional, Paulo Okamotto, disse que a instituição precisa estar atenta a esse público que tem pouca escolaridade, inclusive na elaboração de material de orientação. Mas apontou outro problema: 80% dos empreendedores ganham menos de seis salários mínimos por mês e não conseguem pagar qualquer tipo de consultoria.
?Alguns dados da pesquisa são terríveis, como a baixa renda desses negócios e a falta de acesso a tecnologia. O Sebrae tem que estar atento. A nossa tarefa é fazer com que esses empreendimentos de brasileiros com baixo nível de instrução tenham capacidade de ter sucesso?, disse Okamotto, destacando a importância de a economia brasileira crescer a taxas superiores a 3% para absorver os desempregados e estimular novos negócios.
A pesquisa anual Global Entrepreneurship Monitor colheu dados de 34 países com base em 2004. Foram avaliados aspectos como a evolução da taxa da atividade empreendedora, desde quando o estudo começou, em 2001.
Todos pensam em gerar empregos
Se valer a vontade de grande parte dos empreendedores entrevistados pelo mais recente estudo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), será bem mais fácil conseguir emprego daqui para a frente. Dos consultados, 39% pretendem empregar pelo menos três pessoas em seus negócios nos próximos cinco anos.
O otimismo registrado com relação ao emprego no Brasil tem proporção semelhante ao de países de alta renda (39%) e baixa renda (37%) e bem maior do que nas nações de renda média (26%). Mas vale considerar também que a maioria dos empreendedores brasileiros (61%) tem expectativa de gerar até dois empregos em cinco anos. E isso ocorre, segundo o estudo, por causa do elevado grau de empreendedorismo por necessidade, formado em sua maioria por profissionais autônomos com baixa qualificação.
O baixo índice de qualificação também explica a existência de outros aspectos no perfil do empreendedorismo brasileiro, como concorrência e grau de inovação tecnológica. É curioso perceber que para 65% dos empreendedores, o ramo de negócio em que atuam é muito disputado pelos colegas, contra 30% que acreditam ter poucos concorrentes. Apenas 5% afirmam não haver competidores estabelecidos em seu mercado de atuação.
Quando indagados se seus produtos ou serviços oferecidos trazem novidades para o mercado em que atuam, 85% dos entrevistados respondem negativamente à questão. Apenas 2% acreditam que seu negócio apresenta novidade. Também pudera. O baixo grau de inovação tecnológica dos empreendimentos no Brasil não ajuda a ampliar mercados, sobretudo quando se verifica que 97% dos entrevistados atuam com tecnologias e processos já existentes.
Investidor informal é quem mais ajuda
Parentes, amigos e vizinhos merecem troféu. Eles são verdadeiros anjos da guarda na hora de financiar os negócios. E não é só no Brasil. Entre os 34 países pesquisados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), cujos resultados foram divulgados ontem, cerca de 40% do capital necessário para inaugurar novos empreendimentos vêm do investidor informal. Quase todo o restante do dinheiro sai do bolso do próprio dono. Curiosamente, em todo mundo a participação do financiamento formal é quase inexistente.
O caso do Brasil é mais grave porque, além de o empreendedor contar muito pouco com os bancos, a ajuda que recebe dos investidores informais é menor do que a média dos outros países. Isso se confirma quando se constata que menos de 1% dos entrevistados afirmam ter atuado como investidor informal, sendo bem menor do que a média mundial, que gira em torno de 3,6%.
Ao todo, enquanto a média do montante investido anualmente no Brasil não passa de seiscentos dólares, a média mundial chega a US$ 10 mil. Percebe-se também que no Brasil o financiamento do investidor informal corresponde a 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto), bem inferior à média internacional, cujos investimentos informais chegam a 1,2% do PIB mundial.
Os familiares brasileiros entram com 41,7% dos investimentos informais, contra 49,4% da média internacional. Em seguida, vêm os amigos e vizinhos, que em nosso País ajudam com 37,5% do investimento informal, ficando acima da média mundial (26,4%). Outro grupo em que o percentual brasileiro é maior do que o geral é o de outros parentes, com 12,5% contra 9,4%.
