A Associação Brasileira das Indústrias do Trigo (Abitrigo) classificou como correta a corajosa a decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) que reduziu de 10% para zero a Tarifa Externa Comum (TEC) para a compra de trigo de países fora do Mercosul. No entanto, acredita que a cota de um milhão de toneladas liberada para importação não será suficiente para atender ao mercado. A demanda estimada para este ano do cereal é de 10,5 milhões de toneladas, enquanto a produção nacional foi de 3,8 milhões de toneladas, cujo volume foi todo vendido.
?Nós teremos que continuar importando para trabalhar?, afirmou o presidente do Conselho Administrativo da Abitrigo, Luiz Martins. Segundo ele, quando a Argentina abriu as exportações em novembro, o Brasil comprou 2,4 milhões de toneladas. ?Mas esse volume ainda não foi suficiente, pois vamos precisar do produto até a próxima safra?, ponderou. Com a redução da TEC o País irá buscar o trigo nos mercados do Canadá e Estados Unidos, pois a própria Argentina vendeu praticamente todo seu estoque.
Mesmo com a redução da TEC o representante da Abitrigo não descartou que o preço dos produtos, como o pão, macarrão, bolachas e demais derivados do grão, cheguem mais caros ao consumidor. Isso deverá ocorrer em função do mercado, pois como o trigo é negociado na bolsa, o valor oscila muito. Apesar de não arriscar um índice, Luiz Martins afirmou que ficará bem abaixo dos 16% que estavam sendo previstos caso o governo mantivesse a taxa de importação. ?Da Argentina estávamos pagando US$ 385 a tonelada, mas de outros países ainda estamos cotando?, afirmou.
Outros especialistas, no entanto, consideram que sem tarifa, preço do produto deve se manter estável.
No ano passado, a Argentina, fornecedor de mais da metade do trigo moído no País, fechou seus portos para a exportação. E como resultado, de janeiro a dezembro, no âmbito do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o pão francês ficou 7,93% mais caro, assim como o macarrão (7,58%) e o biscoito (5,20%). Os 219 moinhos brasileiros – a maioria concentrado no sul do Brasil – têm capacidade de processar 800 mil toneladas do cereal por mês, mas temem ficar ociosos por falta de produto.