Brasil tem urânio para os próximos 80 anos

Rio (AE) – O Brasil tem reservas de urânio para garantir a produção de energia nuclear por pelo menos 80 anos, informou o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Gonçalves. Segundo ele, há hoje 310 mil toneladas já descobertas, volume suficiente para gerar 8 mil megawatts (MW), ou quatro vezes o volume atual, pelas próximas oito décadas. A auto-suficiência na cadeia do urânio é um dos principais argumentos dos defensores da retomada do programa nuclear brasileiro.

Gonçalves calcula que há ainda 800 mil toneladas de urânio não aferidas no subsolo brasileiro, que necessitam de novos investimentos em exploração para serem confirmadas. A CNEN apresentou ao governo um plano para levar a energia nuclear a pelo menos 5% da matriz energética brasileira em 2030, com a construção de duas novas centrais nucleares do porte da central de Angra dos Reis. Atualmente, com as usinas Angra 1 e 2 e capacidade total de 2 mil MW, a tecnologia é responsável por 2% da geração de eletricidade no País.

Novas descobertas de urânio, diz o executivo, seriam importantes para permitir exportações do minério, cuja receita seria usada para o desenvolvimento de toda a cadeia do combustível nuclear no Brasil. O País já domina a tecnologia, mas ainda não produz todas as etapas em escala comercial. Gonçalves lembrou ainda que o governo criou, no ano passado, a Rede Nacional de Fusão (RNF), para pesquisar a tecnologia de fusão nuclear, uma das apostas para o setor energético para a segunda metade do século.

A RNF tem 80 pesquisadores de 16 instituições de pesquisa e terá R$ 1 milhão dos fundos setoriais operados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. Estima-se que a fusão nuclear (fusão de núcleos atômicos) gere tanta energia como a tecnologia atual, de fissão nuclear (separação dos núcleos), mas sem a produção de rejeitos radioativos de longa vida. Na tecnologia atual, usada pelas usinas brasileiras, pode-se gerar rejeitos com milhares de anos de radioatividade, além de rejeitos de baixa e média atividade.

Atualmente, os rejeitos de baixa e média ficam estocados na central nuclear de Angra dos Reis, segundo legislação específica. Os de alta atividade estão em de piscinas construídas dentro dos reatores com o objetivo de servir como depósitos iniciais, onde perdem parte da radioatividade. A questão dos depósitos definitivos ainda não foi definida. A CNEN opera três depósitos de rejeitos de baixa e média atividade no Brasil, a maioria de origem hospitalar ou industrial.

Gonçalves defende mudanças amplas na legislação referente ao setor nuclear brasileiro, com o objetivo de tornar as leis da área mais efetivas e ágeis. A entidade, que é ligada ao MCT, propôs ao governo a construção de uma usina nuclear a cada três anos, entre meados da próxima década e 2030. A idéia é construir entre quatro e seis usinas, com investimentos que podem chegar a R$ 24 bilhões, nas contas da Eletronuclear.

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