economia

Brasil tem muito espaço para hidrelétricas, mas com governança, diz Paranhos

O Brasil ainda tem muito espaço para a construção de hidrelétricas, mas é preciso implantar governança nos projetos e evitar que as construtoras sejam sócias do empreendimento, alerta Victor Paranhos, ex-presidente da Energia Sustentável do Brasil, controladora da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO), primeira no ranking do Operador Nacional do Sistema (ONS) em termos de disponibilidade de geração de energia elétrica.

A declaração, feita no dia em que deixou um emprego de 20 anos na Engie para “procurar uma encrenca nova” no mercado, no último dia 30 de setembro, remete a declarações feitas pelo atual governo de querer resgatar a construção de grandes usinas hidrelétricas como as do Rio Tapajós, cujos estudos foram abandonadas nos governos anteriores pelos impactos ambientais que este tipo de obra causa. A tese, porém, é contestada por Paranhos. Para ele, o problema do governo é fazer estudos e projetos pela Lei 8.666, que limita as contratações aos preços mais baixos apresentados pelos concorrentes.

“Todos os projetos que o governo tinha dessas grandes hidrelétricas, como Jirau e Santo Antonio, foram para o lixo. A Odebrecht fez o projeto de Jirau e a gente mudou o eixo em 12 quilômetros. A própria Odebrecht também não construiu onde projetou, fez o eixo a 500 metros do projeto original em Santo Antonio (hidrelétrica do Rio Madeira)”, avaliou.

Na opinião do executivo, que administrou Jirau por 11 anos, além de um projeto eficiente a governança é o melhor caminho para empreendimentos de grande porte darem certo, principalmente quando se tem como sócio o próprio governo. No caso de Jirau, a Eletrobras tem 40% de participação por meio de Chesf e Eletrosul, subsidiárias que estão na lista de privatizações do governo por meio da venda da holding Eletrobras, prevista para 2020.

Paranhos avalia que a privatização da Eletrobras não terá impacto na parceria em Jirau, já que a empresa vai continuar sendo negociada em bolsa de valores, sujeita, portanto, a uma governança ainda maior e mais liberdade.

“Graças à governança que colocamos lá em Jirau não tivemos problemas na Lava Jato (que atingiu a hidrelétrica de Belo Monte), como teve Santo Antonio por causa da Odebrecht. Ficaram (auditoria) um ano e meio aqui dentro e não encontraram nada”, se orgulha Paranhos, que por pouco porém não entra nas investigações por conta de um presente para um produtor da região da hidrelétrica.

“Tinha um e-mail meu que dizia: Por favor, entregar as galinhas. Mas na Lava Jato, galinha era usado por alguns como palavra chave de busca para falar de propina. Tive que mostrar a foto entregando as galinhas de verdade para um produtor da região que tinha perdido tudo por causa de uma raposa. Na verdade, eu queria dar ovelhas, mas não encontrei e dei as galinhas, que quase me deram problema”, se diverte.

Também em Jirau ele passou por uma saia justa com a ex-presidente Dilma Rousseff , maior defensora do conteúdo nacional, quando decidiu comprar equipamentos na China para Jirau, já que os preços eram 30% menores do que o produto nacional. “Nunca tivemos em Jirau uma indicação política, o governo foi extremamente ético o tempo todo. Mas quando contratei empresa chinesa para entregar equipamentos no Brasil, teve uma presidente da República que olhou feio pra mim, mas não falou nada, trincou o dente mas deixou rolar”, conta.

Os números de Jirau confirmam o entusiasmo de Paranhos pela usina. Quarta hidrelétrica do País, o empreendimento teve a melhor performance, segundo o ONS, nos últimos seis anos, produzindo mais energia do que o previsto em vários momentos. A empresa promoveu 34 programas sócio-ambientais em Rondônia e investiu R$ 1,2 bilhão em sustentabilidade e R$ 188 milhões em compensações sociais. O empreendimento também obteve créditos de carbono por reduzir 6 milhões de toneladas de CO2 por ano, qualidade reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

“Hidrelétricas são viáveis, só precisam ser bem geridas e ter bons projetos, que não podem ser feitos por quem vai construir, e nem contratações pelo preço mais baixo, pois isso deixa o projeto fraco”, reforça o executivo.

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