Brasília (AE) – O Brasil já tem dólares suficientes para quitar toda a dívida externa do governo, que no passado já foi o maior problema da economia brasileira. As reservas internacionais do País ultrapassaram a marca de US$ 64 bilhões e já são maiores do que a dívida externa da União, de US$ 63,28 bilhões. Na prática, a dívida externa do governo federal foi zerada e o País agora é credor em dólar.
Em plena campanha eleitoral, o governo Lula não deixou de faturar com o acontecimento histórico. Antes de embarcar ontem para a Argentina, onde participará da reunião do Mercosul, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou o feito. Antes, pela manhã, comunicou o fato ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ?O Brasil saiu do cheque especial e somos agora credores. Nós temos a receber e não a pagar. Talvez seja a primeira vez na historia do País que nós tenhamos esta situação?, disse o ministro. Segundo ele, esse quadro reduz a vulnerabilidade externa e assegura maior tranqüilidade para o País enfrentar as turbulências do mercado internacional. ?Sem reduzir esta vulnerabilidade não se pode ter crescimento sustentado. Na primeira turbulência, se o País está fragilizado, se depende de capitais externos, acaba interrompendo o crescimento que estiver em curso?, comentou Mantega.
Agora, avaliou o ministro, o crescimento da economia brasileira não será interrompido por turbulências externas. ?É uma grande meta que foi atingida?, afirmou. O ministro disse que o Banco Central vai continuar a sua política de acumulação de reservas e que há espaço para esse ?colchão? de liquidez em dólar aumentar. ?Se nós olharmos para as reservas que possuem os países emergentes parecidos com o Brasil, como a Rússia e a Coréia, o colchão ainda pode encher mais?, disse Mantega.
Na avaliação do governo, o custo para se manter as reservas elevadas compensa. ?As reservas elevadas acabam reduzindo o custo fiscal à medida em que o risco País diminui, o Brasil se torna mais sólido e mais confiável, e com isto, ele tem que remunerar menos os títulos que coloca no mercado. Então é uma despesa menor que o governo faz?, justificou.
Para o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, a nova situação pode acelerar a queda da taxa Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). ?O prêmio de risco do Brasil deve cair e, conseqüentemente, as taxas de juros de longo prazo. Com isso, a Selic pode cair mais rápido?, afirmou.
Freitas ressaltou que o governo já tinha conseguindo zerar, em janeiro, a dívida interna corrigida conforme a variação do dólar por esse critério, o Brasil já era credor na moeda norte-americana. Segundo o ex-diretor, depois da moratória da dívida externa, nos anos 80, o Brasil nunca tinha estado numa situação tão confortável.
Apesar de considerar positivo para a economia, o economista da MB Associados, Sérgio Vale, disse que num país normal a notícia não mereceria tanto destaque, mas em época de campanha ganha apelo eleitoral.