O Tesouro Nacional anunciou ontem a compra antecipada de todo o estoque de títulos da dívida externa brasileira renegociados em 1994, os chamados ?bradies?. A preços atuais de mercado, o valor desses títulos é de US$ 6,64 bilhões, mas o desembolso do Tesouro será menor, de cerca de US$ 5 bilhões, porque parte desses papéis tinha US$ 1,5 bilhão em garantias que agora serão liberadas. A operação de recompra dos papéis será concluída no próximo dia 15 de abril.
Após essa operação, a dívida externa bruta pública deve cair para cerca de US$ 80 bilhões e a dívida líquida (dívida bruta menos reservas internacionais) cai para US$ 30 bilhões. Os recursos para a recompra sairão integralmente das reservas internacionais, que somavam aproximadamente US$ 57 bilhões no mês de janeiro.
?A renegociação da dívida externa feita em 1994 se refere, na verdade, ao ?default? do Brasil anunciado em 1987. Assim, estamos virando a página dos anos 80s. Muita gente não se lembra deles, mas eles existiram e deixaram marcas?, afirmou o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, no anúncio da decisão do Brasil de antecipar a compra desses títulos externos que têm vencimentos previstos entre 2009 e 2024. Participaram do evento o diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, e do secretário-adjunto do Tesouro, José Antônio Gragnani.
Levy explicou que a decisão de recomprar os ?bradies? faz parte da estratégia de melhorar o perfil da dívida externa. ?O bom desempenho econômico, associado à elevada liquidez internacional fez com que o Tesouro aproveitasse para antecipar o pagamento desses títulos?, disse. O Brasil economizará US$ 345 milhões em despesa de juros a valor presente líquido, com a recompra. O valor nominal supera US$ 600 milhões. Já o prazo médio da dívida externa não terá uma queda expressiva.
O Tesouro estima que a recompra reduzirá o risco Brasil em 10 pontos-base, porque os ?bradies? têm baixa liquidez no mercado internacional, o que penaliza por razões estruturais o prêmio de risco. Ao lado da potencial queda do risco Brasil, que estava em 223 pontos-base ontem à tarde, Levy comemorou o valor de negociação dos títulos externos brasileiros. Atualmente, esses papéis têm valor melhor do que os da Turquia e estão apenas 50 a 60 pontos-base acima dos títulos do México, que é um país que é classificado como ?grau de investimento? pelas agências de risco
?Isso não prejudicará a predisposição positiva que as agências de risco têm em relação ao Brasil?, disse Levy, ao ser perguntado se essa medida poderia facilitar a mudança do rating brasileiro. Mas ele listou uma série de indicadores positivos que colocariam o Brasil mais próximo do México e da África Sul do que de ?países que enfrentam surtos de inflação ou não honram seus compromissos?. ?Demora um certo tempo para as pessoas se darem conta disso?, acrescentou.
A compra antecipada faz parte de um programa mais amplo, anunciado há duas semanas pelo governo brasileiro, de recompra com valores potenciais de até US$ 20 bilhões, que inclui os ?bradies?.